Acessibilidade na escolha de escritórios

acessibilidade nos escritorios

Especialistas e proprietários de imóveis corporativos veem evolução desse tipo de demanda nos últimos anos e dizem o que esperar do futuro

A acessibilidade vem se tornando um fator crescentemente determinante para as grandes empresas na hora de decidir em que edifícios instalar suas sedes e escritórios. Mais do que garantir o simples cumprimento de obrigações legais, o foco está em dispor de soluções que de fato facilitem o dia a dia dos frequentadores desses espaços, quaisquer que sejam suas necessidades específicas. 

Isso não é papo furado. Tem a ver com absoluto pragmatismo, pautado em questões-chave ao desempenho corporativo. Diante desse movimento, não é de se admirar que o mercado imobiliário esteja dando mais atenção ao tema e procurando contemplá-lo assertivamente em seus empreendimentos para conquistar e manter inquilinos de peso. Ao que parece, mais e mais gente vai descobrindo que a acessibilidade, além de promover bem-estar igualitário, é boa para os negócios.

Tudo isso, porém, se refere a acessibilidade de verdade, não pró-forma. Pense, por exemplo, em um prédio que tenha, na sua entrada, uma rampa que respeite a inclinação determinada pela regulamentação, mas à qual uma pessoa com mobilidade reduzida não consiga chegar, uma vez que a guia da calçada não é rebaixada. Ou então que esse mesmo edifício, apesar de diversas adaptações, possua, internamente, uma área de mezanino à qual se possa subir somente por escadas e que não ofereça banheiros acessíveis. De que adianta? Muito pouco. Por isso, a abordagem do assunto vem sendo bem objetiva, típica do universo corporativo, e tem como eixos uma visão abrangente, a aplicação prática e a eficiência.

Razões para ser acessível

Proprietários de prédios de escritórios e intermediadores de contratos de locação de vulto asseguram que o valor dado pelos inquilinos à acessibilidade se ampliou consideravelmente nos últimos anos. “As grandes empresas estão cada vez mais engajadas em ações de inclusão social. Com isso, no momento da escolha de uma nova sede, esse tópico é de fundamental importância e pauta recorrente ao longo do processo”, afirma Adriano Sartori, vice-presidente da CBRE. 

Diferente do passado, essa postura não se concentra em multinacionais, mas toca igualmente as companhias nacionais. “Hoje, seria um impeditivo para as grandes empresas ocupar um imóvel que não fosse acessível e sustentável”, reforça Celina Antunes, CEO da Cushman & Wakefield para a América do Sul.

As justificativas para a nova realidade são várias, num somatório não-excludente. Entre elas, se destacam:

  1. Preocupação genuína com o tema, fruto de amadurecimento; 
  2. Engajamento em iniciativas e certificações de sustentabilidade;
  3. Atendimento à norma ABNT NBR 9050, que estabelece parâmetros técnicos de acessibilidade para edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos; 
  4. Implementação da Lei de Cotas para PCD, ou seja, o artigo 93 da Lei nº 8.213/91, que determina reserva legal de cargos para pessoas com deficiência em empresas com mais de 100 colaboradores e pressupõe condições favoráveis de acesso;
  5. Cobranças de stakeholders e da sociedade em geral;
  6. Reconhecimento da relevância do assunto para a atração e a retenção de talentos;
  7. No caso de multinacionais, observância de padrões globais, que são muitas vezes mais rígidos do que os locais;
  8. Evolução na estruturação de departamentos de real estate nas companhias, levando a uma atuação mais profissionalizada e criteriosa;
  9. Preservação e valorização da imagem corporativa.

Consequentemente, “o ‘acesso universal’ é o que notamos como a grande diretriz para os novos empreendimentos e usuários”, pontua Martín Jaco, CEO da BR Properties.

Acessibilidade mais abrangente

Um aspecto muito importante nesse processo evolutivo verificado nos últimos anos é que o conceito de acessibilidade teve sua dimensão estendida. 

“Acreditamos que o termo acessibilidade seja muito mais abrangente hoje do que anteriormente. Agora, acessibilidade se refere a uma gama muito grande de usuários de edificações e não somente a pessoas com necessidades especiais”, diz Jaco.

Entram nesse rol indivíduos que estão indo viajar ou voltando de viagem e precisam carregar sua bagagem, famílias com bebês e seus carrinhos, mulheres grávidas, atletas contundidos ou qualquer outro indivíduo lesionado e fazendo uso de muletas, idosos com dificuldade de locomoção e até mesmo cidadãos estrangeiros que demandem sinalização e atendimento em outro idioma.

“Trata-se de uma população muito grande e que pode variar com o tempo. Se as edificações não levarem isso em consideração, certamente ficarão obsoletas”, prevê o CEO da BR Properties.

Outra mudança que os anos trouxeram foi a visão de que não se promove acessibilidade com ações isoladas, e sim por meio da agregação de medidas complementares.

“Juntas, elas tornam uma edificação acessível aos mais diversos tipos de necessidades específicas. Dessa forma, não se pode elencar um elemento que seja mais importante do que os demais”, analisa Adriano Sartori. “O conjunto é que faz um diferencial”, completa.

acessibilidade nos escritorios

Quando se trata de diferencial, é consenso que prédios certificados em acessibilidade, com destaque para a Certificação Guiaderodas, despertam maior interesse frente aos potenciais inquilinos. “A Certificação é importante, pois é um atestado de um terceiro independente – com qualificação e credibilidade, caso do Guiaderodas – de que a edificação atende aos requisitos do ângulo prático de uso”, analisa Jaco.

“Um ponto relevante é que as certificações evoluem com o tempo; portanto, é preciso reavaliar o que realmente é oferecido no edifício e compará-lo com o progresso que o mercado mostrou. Dessa forma, teremos as atualizações requeridas e não apenas um certificado”, adiciona ele.

Foto: Bianca Mahfuz Silva, Bruno Mahfuz e João Barguil, sócios do Guiaderodas, startup brasileira premiada pela ONU que oferece soluções tecnológicas para o aprimoramento constante da acessibilidade em empreendimentos e empresas.

“A certificação em acessibilidade faz com que determinado edifício ‘comprove’ que realmente permite a pessoas com as mais diversas necessidades utilizá-lo de maneira segura, que todos os aspectos desse uso foram pensados e que muitos diferenciais serão observados, como o treinamento da equipe de operação do condomínio para lidar com o tema”, pontua Sartori. É, portanto, um modo de indicar ao mercado que um prédio foi além das premissas mínimas legais e se posiciona acima da média.

O que vem pela frente?

Olhando para o futuro, a expectativa é de que o progresso recente continue. Poucos arriscam antecipar com precisão que novidades no campo da acessibilidade veremos; entretanto, as apostas convergem para uma maior correlação com a tecnologia.

app guiaderodas

“Pode-se imaginar que a acessibilidade, por exemplo, deva acompanhar o surgimento de novas tecnologias e sistemas prediais que serão, em algum momento, incorporadas aos edifícios comerciais. Também se deve observar o que a Indústria vem produzindo para atender às demandas de pessoas com necessidades especiais. Os prédios deverão estar capacitados e preparados para conviver harmonicamente com todas elas”, afirma Adriano Sartori. “Por fim, há que se considerar a tendência mundial da IoT [internet das coisas, na sigla em inglês] nos diversos segmentos. Soluções tecnológicas integradas certamente estarão presentes nesse contexto”, acrescenta.

Nesse caminho, é de se esperar também que o Brasil se inspire em nações mais desenvolvidas, que já passaram por etapas evolutivas que ainda temos pela frente e que vão muito além dos empreendimentos imobiliários em si, abraçando, em especial, as áreas públicas urbanas – caso das calçadas.

“Pode-se antecipar que o Brasil terá comportamento muito similar a outros países que se preocupam em propiciar condições igualitárias de deslocamento com independência para todos os seus cidadãos”, antevê o executivo da CBRE.

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giovanna cardio

Giovanna Carnio
Jornalista e economista com larga experiência em comunicação corporativa e gestão de conteúdo de negócios. Liderou essas áreas em empresas como a Amcham-Brasil e o GRI Club e, nos últimos anos, se especializou em temas relativas ao setor imobiliário

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