Acessibilidade em Feiras e Exposições Comerciais: Exemplos Práticos e Concretos
Participar de uma feira de negócios, exposição temática, congresso ou convenção deve ser uma experiência enriquecedora para todos os visitantes – inclusive para pessoas com deficiência. A acessibilidade em eventos comerciais significa garantir que qualquer pessoa, independentemente de suas limitações físicas, sensoriais, intelectuais ou motoras, consiga acessar os espaços, informações e atividades de um evento com conforto, segurança e autonomia. Neste texto, vamos explorar em profundidade o que é acessibilidade nesse contexto, por que ela é tão importante, quais leis e normas orientam essa prática no Brasil, exemplos reais de eventos acessíveis e diversas boas práticas que organizadores e expositores podem adotar. O objetivo é mostrar de forma positiva e prática como tornar feiras e exposições verdadeiramente inclusivas – um diferencial que beneficia não apenas o público com deficiência, mas todos os envolvidos no evento.

Imagem: Uma mulher com cabelos castanhos longos, vista de costas, está em uma cadeira de rodas, movendo-se por um corredor amplo e iluminado. O local tem piso claro e várias colunas brancas, com painéis digitais coloridos ao longo da parede à direita. / Foto: Freepik
O que é acessibilidade em eventos comerciais?
A acessibilidade em feiras e eventos comerciais refere-se ao conjunto de adaptações arquitetônicas, comunicacionais e atitudinais que permitem a participação plena de pessoas com diferentes tipos de deficiência ou mobilidade reduzida. Isso inclui eliminar barreiras físicas (como degraus, obstáculos em corredores), disponibilizar recursos de comunicação (por exemplo, intérpretes de Libras, legendas em telões, materiais em braile) e capacitar equipes para um atendimento inclusivo e respeitoso. Em outras palavras, é aplicar os princípios do Desenho Universal, garantindo que tudo no evento – da entrada aos estandes, da sinalização aos banheiros – possa ser usado pelo maior número de pessoas possível, sem necessidade de adaptações de última hora.
Ser um evento acessível vai além de rampas para cadeirantes. Significa prever as necessidades de todos os perfis de visitantes: pessoas cegas ou com baixa visão (com sinalização tátil e áudio descrições), pessoas surdas (com intérpretes de língua de sinais e legendas), pessoas com dificuldade de locomoção (com assentos reservados, empréstimo de cadeiras de rodas), idosos, gestantes, pessoas com autismo (com ambientes mais tranquilos ou “salas de calma”), entre outros. Acessibilidade, nesse contexto, é sinônimo de inclusão total, permitindo que cada visitante desfrute do evento de forma autônoma e segura.

Imagem: Uma mulher faz um gesto em Língua de Sinais com as mãos posicionadas em frente ao corpo. Ela usa um casaco preto e está de frente para a câmera, em um ambiente com fundo branco neutro. / Foto: Pexels
Por que a acessibilidade é importante?
- Impacto Social e Inclusão: Eventos acessíveis promovem a participação igualitária na vida econômica e social. Garantir acesso a feiras e exposições para pessoas com deficiência é uma questão de direitos humanos e cidadania. Todos devem ter a chance de conhecer novidades, fazer networking e viver experiências culturais ou de negócio oferecidas nesses eventos, sem se sentirem excluídos por barreiras evitáveis. Além disso, vale lembrar que quase 15% da população mundial (mais de 1 bilhão de pessoas) vive com alguma forma de deficiência. No Brasil, são 18,6 milhões de pessoas com deficiência (8,9% da população) – um público significativo que merece ser considerado.
- Obrigação Legal: A acessibilidade não é apenas um gesto de boa vontade, mas muitas vezes uma exigência legal. Leis brasileiras determinam padrões de acessibilidade em espaços públicos e eventos (como veremos adiante), prevendo sanções em caso de descumprimento. Cumprir essas normas evita problemas jurídicos e mostra respeito às políticas de inclusão. Em última instância, negar acessibilidade é discriminação segundo a legislação vigente, e eventos que não se adaptam podem sofrer penalizações e desgaste na imagem.
- Diferencial Competitivo e Mercado Potencial: Incluir pessoas com deficiência como público-alvo amplia o alcance de mercado do evento. Este grupo, somado a seus amigos e familiares, representa um enorme potencial de consumo – estimado em cerca de US$ 13 trilhões de poder de compra globalmente. Ignorar a acessibilidade é perder oportunidade de engajamento com um segmento fiel e em crescimento. Por outro lado, eventos acessíveis tendem a atrair mais visitantes (inclusive pessoas idosas ou com mobilidade reduzida temporária) e podem aumentar a venda de ingressos, inscrições e a circulação nos estandes. Em suma, acessibilidade gera retorno financeiro: mais público, mais negócios fechados e um relacionamento positivo com clientes diversos.
- Imagem, Reputação e ESG: Adotar a acessibilidade também eleva a reputação de organizadores e empresas expositoras. Demonstra compromisso com diversidade e inclusão, valores cada vez mais apreciados pela sociedade e alinhados aos critérios ESG (Ambiental, Social e Governança) no mundo corporativo. Visitantes, imprensa e patrocinadores enxergam eventos acessíveis de forma positiva – é marketing genuinamente bom. Empresas que investem nessa causa mostram que se preocupam com todas as pessoas, o que fortalece a marca e pode diferenciá-las da concorrência. Um evento acessível gera comentários positivos, fideliza públicos variados e evita situações constrangedoras (como barrar alguém por falta de estrutura). Em resumo, acessibilidade é bom para as pessoas e bom para os negócios.
Vale destacar ainda que tornar uma feira acessível traz benefícios universais. Uma rampa bem construída não atende só cadeirantes, mas também idosos e carrinhos de bebê; uma sinalização clara ajuda pessoas com deficiência intelectual e também visitantes em geral; materiais em linguagem simples ou visual beneficiam a todos. Ou seja, eventos acessíveis são eventos de melhor qualidade para todos os visitantes.
Leis, normas e diretrizes de acessibilidade em eventos
No Brasil, há um arcabouço robusto de leis e normas técnicas que orientam e exigem a acessibilidade em espaços públicos – incluindo feiras comerciais e eventos. Conhecer essas regras é fundamental para a organização responsável. Destacam-se:
- Lei Brasileira de Inclusão (LBI) – Lei nº 13.146/2015: Também conhecido como Estatuto da Pessoa com Deficiência, é a lei que consolida os direitos das pessoas com deficiência. A LBI determina que a acessibilidade deve ser assegurada em edificações, meios de transporte, sistemas de comunicação e serviços em geral. Seu Artigo 45, por exemplo, tornou obrigatória a observância das normas de acessibilidade nas construções, instalações e reformas, referindo-se diretamente à aplicação da norma técnica ABNT NBR 9050. A LBI também reforça que espaços culturais, esportivos e de lazer (categoria na qual eventos e feiras se encaixam) devem ser acessíveis e pode classificar a recusa de acessibilidade como ato discriminatório passível de punição.
- ABNT NBR 9050 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos: É a principal norma técnica brasileira que estabelece critérios e parâmetros de acessibilidade no desenho e na adequação de espaços físicos. Essa norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) especifica tudo, desde as medidas corretas de rampas, largura de portas e corredores, altura de balcões e displays acessíveis, até detalhes de banheiros adaptados, sinalização em braile e piso tátil. Desde 2020, está em vigor a versão atualizada (NBR 9050:2020), e, conforme mencionado, seu cumprimento passou a ser mandatório por lei federal. Em um evento, seguir a NBR 9050 é essencial para garantir que a infraestrutura temporária (estandes, palcos, tendas, etc.) atenda a todos os requisitos de acessibilidade física.
- Decreto nº 5.296/2004: Regulamenta as Leis nº 10.048/2000 (que trata do atendimento prioritário a pessoas com deficiência) e nº 10.098/2000 (Lei de Acessibilidade original). Esse decreto é um marco, pois estabelece normas gerais e critérios básicos para promover a acessibilidade das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida em todo tipo de espaço e serviço. Ele abrange desde edificações e urbanismo até transportes e comunicação, definindo prazos e responsabilidades para adaptações. Para eventos, o Decreto 5.296/2004 implica que todas as estruturas de uso coletivo devem ser acessíveis – seja na aprovação de projetos de feiras, seja na concessão de alvarás para eventos, a acessibilidade precisa estar garantida. Além disso, o decreto detalha a obrigatoriedade de facilidades como banheiros adaptados, assentos especiais e formação de pessoal para atendimento prioritário.
- Outras leis e portarias relevantes: Há ainda legislações específicas que complementam o cenário. Por exemplo, a Lei nº 10.436/2002 e o Decreto nº 5.626/2005 reconhecem a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação, o que respalda a necessidade de intérpretes em eventos públicos. Normas da Vigilância Sanitária e do Corpo de Bombeiros também incluem aspectos de acessibilidade (como rotas de fuga acessíveis). Em âmbito internacional, o Brasil é signatário da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Decreto nº 6.949/2009), reforçando seu compromisso de assegurar ambientes acessíveis e inclusivos. Além disso, diretrizes de órgãos como a Secretaria Nacional da Pessoa com Deficiência e publicações técnicas (por ex., guias de acessibilidade em eventos) oferecem recomendações práticas alinhadas com a lei.
Em resumo, do ponto de vista legal e normativo, não faltam referências: acessibilidade é dever. Organizar uma feira ou exposição acessível não é opcional nem “favor” – é cumprir a lei e seguir padrões de qualidade reconhecidos. A boa notícia é que essas normas servem como guia para montar eventos melhores, bastando incorporá-las desde o início do planejamento.
Exemplos práticos de eventos acessíveis
Nada melhor do que casos reais para ilustrar como a acessibilidade pode (e deve) ser aplicada em eventos comerciais. Felizmente, há exemplos inspiradores tanto no Brasil quanto no exterior de feiras bem-sucedidas nesse quesito.

Imagem: Pessoas circulam na área externa de um evento identificado como “Mobility & Show”, com uma grande placa de boas-vindas e tendas brancas ao fundo. Diversos participantes utilizam cadeiras de rodas ou empurram carrinhos adaptados, enquanto outras pessoas estão de pé, conversando ou aguardando na fila. À direita, há uma tenda sinalizada como “Administração / Imprensa”. O local está movimentado, sob céu azul e clima ensolarado. / Foto: Divulgação Mobility & Show
Imagem: Visitante em cadeira de rodas na entrada da Mobility & Show 2022, evento automotivo acessível em São Paulo. Um exemplo concreto veio da feira Mobility & Show 2022, realizada no Estádio do Pacaembu em São Paulo. Voltado ao setor automotivo e de mobilidade, o evento foi planejado para receber bem visitantes com deficiência. Havia transporte adaptado gratuito partindo de estações de metrô próximas, com vans e carros acessíveis, além de estacionamento reservado pertinho da entrada para veículos com credencial de PcD. Na recepção, montou-se um balcão de credenciamento rebaixado (na altura ideal para cadeirantes) e fila preferencial. A organização disponibilizou intérpretes de Libras e voluntários capacitados para guiar pessoas cegas ou com mobilidade reduzida, logo na entrada. Para quem precisasse, havia até cadeiras de rodas motorizadas emprestadas, permitindo que visitantes percorressem confortavelmente os pavilhões amplos. Barreiras físicas foram identificadas e resolvidas: por exemplo, grelhas de ventilação no solo que podiam prender rodas de cadeira foram cobertas com chapas lisas, e rampas largas foram instaladas onde havia desníveis. Nos banheiros, unidades acessíveis em número adequado – inclusive banheiro acessível unissex, uma ótima prática para que cuidadores de sexo diferente possam auxiliar quem precise, sem constrangimentos. O resultado foi uma feira elogiada, onde pessoas com deficiência circulavam com autonomia e percebiam a preocupação genuína da organização em recebê-las bem.

Imagem: Um jovem sorridente em cadeira de rodas está na Feira Reatech, sendo empurrado por uma mulher de colete vermelho. Ambos usam crachás. Ao fundo, há um estande com a marca Santander e várias pessoas circulando no local. / Foto retirada do site reatechbrasil.com.br
Outra referência nacional é a feira Reatech (Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade), que ocorre em São Paulo. Sendo um evento voltado diretamente a soluções para pessoas com deficiência, a Reatech há anos aplica acessibilidade exemplar – o que pode servir de aprendizado para qualquer tipo de evento. Lá, por exemplo, já se tornou padrão que os mestres de cerimônia e apresentadores incluam profissionais com deficiência. Em edições recentes, pessoas com deficiência foram convidadas a exercer esses papéis, valorizando a representatividade e mostrando na prática a inclusão. Nos estandes e na equipe de recepção ao público, a feira também integra funcionários com deficiência realizando atendimentos, distribuição de materiais e orientações. Isso não apenas gera empregos, mas enriquece a experiência de todos os visitantes – um recepcionista cadeirante, por exemplo, conhece bem as rotas acessíveis do local e pode informar com propriedade onde ficam rampas ou banheiros adaptados. Esses “toques de inclusão” repercutem positivamente na imagem das empresas expositoras e provam que contratar pessoas com deficiência em eventos é plenamente viável e vantajoso a todos.

Imagem: Vista interna de uma feira de tecnologia com muitas pessoas circulando em um ambiente amplo e iluminado. Um grande painel com a marca “CES” aparece em destaque no canto superior direito. Consumer Electronics Show (CES)/Foto: Artur Widak/Anadolu
No exterior, grandes feiras internacionais também vêm investindo em acessibilidade. A Consumer Electronics Show (CES), gigantesco evento de tecnologia realizado anualmente em Las Vegas (EUA), é um caso notável. A CES disponibiliza serviços de acessibilidade dedicados durante o evento: balcões de atendimento específico para participantes com deficiência visual ou auditiva, aluguel de scooters e cadeiras de rodas elétricas no local para quem precise, e permissão de uso de equipamentos como segways para visitantes com mobilidade reduzida.
No quesito transporte, a organização oferece transporte interno adaptado (shuttles com elevadores) entre os pavilhões, além de orientar sobre vagas ADA (acessíveis) nos estacionamentos dos hotéis parceiros.
Recursos de comunicação também estão disponíveis mediante solicitação antecipada – por exemplo, intérpretes de língua de sinais americana ou sistemas de audiodescrição para sessões. Esses esforços mostram que mesmo eventos de grande porte, com centenas de expositores e dezenas de milhares de visitantes, conseguem ser inclusivos quando há planejamento adequado.
Poderíamos citar ainda inúmeros casos: feiras de turismo adaptadas com tradução simultânea em Libras; exposições de arte com pisos táteis e catálogos em braile; congressos acadêmicos transmitidos com legenda oculta (closed caption) para inclusão de surdos; convenções internacionais que criam salas de silêncio para pessoas com hipersensibilidade sensorial, e assim por diante. Até mesmo eventos populares, como festivais e festas regionais, vêm incorporando acessibilidade – seja uma Festa Junina com quadrilha inclusiva que inclui dançarinos com diferentes deficiências, seja uma feira de agricultura no interior que instalou rampas e banheiros acessíveis para atender moradores idosos e com deficiência da comunidade local. Esses exemplos reforçam: porte não é desculpa – com criatividade e boa vontade, tanto megaeventos quanto feiras regionais podem adotar medidas concretas para serem mais acessíveis.
Adaptações e boas práticas em eventos acessíveis
Organizar um evento acessível envolve atenção a diversos detalhes. A seguir, listamos as principais adaptações e boas práticas a serem consideradas em feiras e exposições, cobrindo acessos, comunicação, estandes, sinalização, atendimento, banheiros, alimentação, tecnologia assistiva, entre outros aspectos:
- Entradas, Acessos e Deslocamento: Assegure que todos consigam entrar e se locomover pelo evento. Isso inclui rampas ou plataformas elevatórias nas entradas (com inclinação de acordo com a NBR 9050), corrimãos e pisos antiderrapantes. Portas e corredores devem ser largos o suficiente para passagem de cadeiras de rodas. Se o evento tiver vários níveis, deve haver elevadores ou rampas de acesso entre eles. Garanta vagas de estacionamento reservadas próximas à entrada para pessoas com deficiência, bem sinalizadas conforme a norma (símbolo internacional de acesso). Ofereça também opções de transporte interno acessível (como carrinhos ou vans adaptadas) se houver longas distâncias no local. Áreas de circulação precisam estar livres de obstáculos e tapetes frouxos que possam causar tropeços ou prender rodas. Pisos táteis de alerta e direcionais são bem-vindos para auxiliar pessoas com deficiência visual a se guiarem, especialmente em espaços amplos. Em suma, do estacionamento à última ala da feira, deve existir um percurso acessível contínuo, sem barreiras.
- Estandes e Espaços de Exposição Adaptados: Os estandes dos expositores também devem contemplar acessibilidade. Evite montagens com degraus ou plataformas elevadas desnecessárias – além de perigosas (muitos tropeços ocorrem em bordas de estandes), elas excluem cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida. Prefira designs no nível do piso, utilizando rampas somente se houver um desnível imprescindível. A largura dentro do estande deve permitir manobra de cadeira de rodas (pense em espaço de giro de 1,50m conforme normas). Balcões de atendimento ou mesas para demonstração de produtos devem ter altura acessível (aprox. 0,75m a 0,90m) ou pelo menos uma seção rebaixada para atender pessoas baixas ou cadeirantes. Exponha produtos e folhetos em alturas alcançáveis – evite colocar tudo no alto. Cadeiras também podem ser disponibilizadas para visitantes que tenham dificuldade de ficar em pé por muito tempo. Outra boa prática é garantir que todos os conteúdos do estande estejam acessíveis: por exemplo, se há vídeos ou telas interativas, inclua legendas e audiodescrição nesses materiais; se há folhetos impressos, tenha algumas versões em braile ou QR codes para acesso digital com leitor de tela. Orientar os expositores quanto a essas medidas fará a feira inteira ser mais inclusiva, estande por estande.
- Comunicação e Informação Inclusivas: Desde a divulgação do evento até a comunicação dentro dele, é crucial adotar formatos acessíveis. Na fase de promoção, todo material (convites, posts, vídeos) deve contemplar alternativas de acessibilidade – por exemplo, adicionar texto descritivo em imagens e artes promocionais, e incluir legendas, tradução em Libras e audiodescrição nos vídeos de chamada. O site e os canais de inscrição do evento precisam ser acessíveis a leitores de tela, com formulários adequadamente etiquetados. Durante o evento, intérpretes de Libras devem estar presentes em palestras, workshops ou visitas guiadas, sempre que houver participantes surdos que usem língua de sinais. Recursos como legendas em tempo real (CART/steno captioning) ou legendagem eletrônica em telões beneficiam não só pessoas com deficiência auditiva, mas também estrangeiros e até quem está em pé longe do palco. Para pessoas cegas, disponibilize audiodescrição em cerimônias ou apresentações visuais importantes – pode ser via um aplicativo de áudio ou receptor específico. Mapas e programas do evento devem existir em formatos acessíveis: versão digital compatível com apps de voz, impressão em braile dos mapas principais ou maquetes táteis de áreas complexas. Informações sonoras (como avisos ou chamadas no alto-falante) precisam ter equivalente visual, em texto ou pictogramas nos telões, para alcançar a todos. Por fim, treine a equipe de comunicação para usar linguagem clara e direta, evitando jargões, pensando também em visitantes com deficiência intelectual ou pouca familiaridade com o tema.
- Sinalização visual e tátil adequada: Placas e sinalizações merecem atenção especial. Todas as áreas (entrada, setores, salas, banheiros, saídas de emergência) devem estar bem sinalizadas com fontes legíveis, alto contraste de cores e pictogramas universais. Incluir braile e sinalização tátil de piso nos principais pontos (como identificação de banheiros, número dos estandes ou indicação de elevadores) ajuda pessoas cegas a se orientarem. Seta e mapas do evento devem considerar a compreensão de pessoas com deficiência cognitiva – use símbolos simples e cores consistentes para diferentes alas ou temas. Uma sugestão é implantar mapas táteis na entrada, mostrando o layout da feira em relevo e braile. Além disso, mantenha os caminhos bem iluminados (iluminação adequada também é acessibilidade, facilitando leitura de lábios e a visão de obstáculos). Considere as necessidades de pessoas com deficiência sensorial: por exemplo, instalar sinalizadores luminosos juntamente com alarmes sonoros de emergência (para alertar quem não ouve), ou alarmes vibratórios se possível. Uma sinalização bem planejada evita confusão e permite que todos naveguem no evento com independência, sem depender unicamente de ajuda de terceiros para achar locais ou serviços.
- Atendimento e treinamento da equipe: Nenhuma estrutura física substitui o fator humano. Equipes bem treinadas em acessibilidade fazem toda a diferença. Garanta que os staffs, recepcionistas, seguranças e voluntários do evento recebam treinamento básico sobre como abordar e auxiliar pessoas com deficiência com respeito. Isso inclui aprender algumas frases em Libras (ou ter tradutores disponíveis para acionar), conhecer a localização exata de todos os recursos acessíveis do evento (rampas, banheiros, rotas, empréstimo de cadeira de rodas), saber manusear cadeiras ou empurrar quando solicitado, e ter sensibilidade para lidar com pessoas com deficiência intelectual ou autismo (por exemplo, falando de forma simples e calma). Estabeleça um ponto de apoio ou balcão de informação acessível logo na entrada, onde visitantes possam solicitar auxílio ou recursos (cadeira de rodas, intérprete, acompanhante guia). Oferecer atendimento preferencial nas filas de credenciamento, restaurantes e atrações é importante – e sinalize essa prioridade. Incentive também os expositores a capacitarem seus funcionários no estande para atender visitantes com deficiência cordialmente, sem preconceitos. Uma boa prática é incluir profissionais com deficiência na equipe do evento (como fez o exemplo do recepcionista cadeirante) – além de oferecer emprego, isso traz experiência de vida para orientar toda a organização e inspira confiança no público com deficiência. Em suma, o atendimento deve ser cordial, ágil e informado, fazendo cada pessoa sentir-se bem-vinda.
- Sanitários, mobiliário e facilidades físicas: É imprescindível disponibilizar banheiros acessíveis no local, em quantidade compatível com o público. Atualmente, já é obrigatório que estruturas de eventos (centros de convenções, pavilhões) tenham banheiros adaptados integrados – e, se não houver, providencie cabines acessíveis móveis (banheiro químico adaptado) como contingência. Certifique-se de que esses banheiros estejam destravados e bem sinalizados, e mantenha-os sem uso indevido (às vezes pessoas sem deficiência os ocupam por engano; a sinalização clara ajuda a evitar isso). Uma prática recomendada é ter ao menos um banheiro acessível unissex: isso permite que, por exemplo, uma mãe possa auxiliar seu filho adulto com deficiência ou um cuidador masculino ajudar uma mulher cadeirante, sem embaraços de gênero. Além dos sanitários, pense em bebedouros acessíveis (de altura menor e alavanca ao invés de torneira de pressão) e áreas de descanso. Espalhar algumas cadeiras ou bancos em pontos estratégicos ajuda pessoas com mobilidade reduzida a fazer pausas. Se o evento for ao ar livre, garanta pisos nivelados ou passarelas firmes (piso de madeira ou borracha) sobre gramados para permitir acesso de cadeira de rodas. Mesas na praça de alimentação devem permitir aproximação frontal de cadeirantes (pernas entrem embaixo). Pequenos detalhes como disponibilizar carregadores de celular nas mesas podem ser úteis para usuários de tecnologia assistiva (como quem usa aplicativos de comunicação alternativa). Por fim, não esqueça da saída de emergência acessível: planos de evacuação devem incluir rotas sem obstáculos e pessoal treinado para auxiliar pessoas com deficiência em caso de urgência.
- Alimentação e serviços de apoio: No caso de feiras com alimentação, barracas ou restaurantes internos também precisam seguir princípios de acessibilidade. Tenha balcões de entrega de alimentos baixos ou duplos (uma parte mais baixa), menus em formatos acessíveis (cardápios em braile ou QR Code para leitura em áudio no celular). Staff das lanchonetes deve estar preparado para auxiliar, por exemplo, lendo o menu para um cliente cego, ou descrevendo os pratos. Disponibilize opções para restrições alimentares (isto não é exatamente acessibilidade física, mas é inclusivo pensar em pessoas diabéticas, celíacas, etc., para que todos tenham algo que possam consumir). Áreas de lixo e recicláveis devem permitir uso fácil (lixeiras não muito altas ou difíceis de abrir). Se houver música ambiente ou anúncios sonoros, cuide para que o volume não seja excessivo a ponto de causar desconforto sensorial; em alguns eventos, definir horários de “baixa estimulação” – com luzes mais suaves e som reduzido – pode acomodar visitantes com autismo ou com síndrome de Down que sejam mais sensíveis. Em resumo, todos os pontos de interação – seja pegar um café ou aproveitar um show dentro da feira – devem ser pensados para maximizar o conforto e autonomia de qualquer participante.
- Tecnologia assistiva e inovação: Aproveite as tecnologias para melhorar a acessibilidade do evento. Hoje existem diversas soluções assistivas que podem ser incorporadas: sistemas de loops de indução magnética em auditórios (para pessoas com aparelhos auditivos ouvirem melhor), totens digitais com informações em áudio e vídeo em Libras, aplicativos de smartphone do evento com funcionalidades de acessibilidade (como descrição dos estandes, programação em áudio, alerta vibratório de notificações). Chatbots ou assistentes virtuais inclusivos podem ajudar visitantes a buscar informações durante a feira via celular. Em eventos de tecnologia, já é comum ver demonstrações de robótica e recursos adaptados – porque não aplicar isso no próprio local? Por exemplo, uso de óculos de realidade aumentada com legenda para visitantes surdos em palestras, ou uso de drones para orientar pessoas cegas (projetos experimentais existem). O importante é garantir que a inovação esteja a serviço da inclusão, e não criem novas barreiras. Lembre-se também de coisas simples: tomadas para carregar scooters motorizadas ou cadeiras elétricas, empréstimo de aparelhos de FM para audiodescrição, disponibilidade de bengalas ou andadores sobressalentes. Incorporar tecnologia assistiva mostra comprometimento em oferecer uma experiência moderna e inclusiva, surpreendendo positivamente o público.
Naturalmente, a implementação dessas práticas deve ser proporcional ao porte e recursos do evento. Um pequeno expositor regional talvez não consiga ter tudo, mas pode adotar medidas-chave (rampas, comunicação clara, voluntários treinados). Já um grande congresso internacional tem condições de oferecer um pacote completo de acessibilidade. O importante é começar – avaliar o que é viável e ir ampliando a cada edição. Cada adaptação feita é um passo rumo a um evento mais democrático.
Como implementar a acessibilidade: sugestões para organizadores e expositores
Tornar uma feira ou exposição acessível requer planejamento, mas não precisa ser um bicho de sete cabeças. Aqui vão dicas práticas para organizadores e empresas expositoras implementarem acessibilidade desde a concepção do evento até a execução:
- Planeje com antecedência e consulte normas: Inclua a acessibilidade já na fase inicial de planejamento do evento. Use checklists baseadas na NBR 9050 e nas leis aplicáveis para não esquecer nenhum item essencial. Considere contratar uma consultoria de acessibilidade ou buscar orientações em manuais especializados (muitos estão disponíveis publicamente, como guias do governo). Assim, você incorpora os requisitos no projeto do evento (layout do pavilhão, design dos estandes, logística) em vez de tentar “corrigir” depois. A previsão orçamentária também deve destinar verba para recursos de acessibilidade específicos – isso evita cortes de última hora nessa área..
- Conheça seu público e suas necessidades: Durante as inscrições ou credenciamento, ofereça campo para que o participante indique se possui alguma deficiência ou necessidade de acessibilidade e quais recursos precisa (ex: “Precisa de intérprete de Libras?”, “Utiliza cadeira de rodas e requer espaço reservado?”, etc.). Esse mapeamento prévio ajuda a dimensionar serviços – quantos intérpretes serão necessários, quantos audioguias preparar, etc. Caso seja um evento aberto sem inscrição, divulgue canais de contato (telefone/WhatsApp/e-mail) para que pessoas com deficiência possam comunicar necessidades antecipadamente. Demonstrar essa abertura já transmite uma imagem positiva e permite ajustes sob medida conforme o perfil do público esperado.
- Envolva pessoas com deficiência no processo: Sempre que possível, traga a experiência de usuários reais para avaliar e contribuir com o evento. Isso pode ser feito convidando representantes de associações de pessoas com deficiência para opinar no projeto, ou contratando profissionais com deficiência na equipe organizadora. Você pode, por exemplo, realizar uma vistoria técnica com cadeirantes, cegos e surdos no local antes da abertura, para identificar falhas que passaram despercebidas. O olhar de quem vivencia as barreiras no dia a dia é insubstituível e vai trazer insights práticos. Ajustes sugeridos por eles – como adicionar uma sinalização aqui, melhorar a rampa ali, fornecer determinado recurso – tendem a ser melhorias valiosas. Além disso, esse engajamento estreita laços com a comunidade PcD local, que se sentirá parte do evento.
- Capacite todos os envolvidos: Promova treinamentos e sensibilização sobre acessibilidade com a equipe interna e também com fornecedores, montadores de estandes e expositores. Realize workshops curtos explicando a importância da inclusão, apresentando as ferramentas (como usar um rádio comunicador para chamar o intérprete, por exemplo) e tirando dúvidas básicas de convivência (etiqueta social com pessoas com deficiência, uso correto de termos, etc.). Forneça um manual do expositor acessível, listando boas práticas para eles adaptarem seus estandes e materiais – incentive-os a pensar na diversidade do público. Se todos os parceiros do evento “vestirem a camisa” da acessibilidade, as ações serão coerentes em todo ambiente e pequenas iniciativas se somarão. Lembre-se: a acessibilidade deve ser um esforço coletivo, não só da organização central.
- Divulgue e sinalize os recursos disponíveis: De nada adianta ter vários recursos de acessibilidade se o público não souber deles. Portanto, comunique ativamente que o evento é acessível. Nas peças de divulgação, inclua símbolos de acessibilidade (♿👂👁️) e texto informando, por exemplo: “Intérpretes de Libras disponíveis”, “Local com piso tátil e banheiros adaptados”, “Material em braile sob demanda”. No dia do evento, sinalize claramente onde estão os pontos de apoio, cadeiras de rodas para empréstimo, etc. Um visitante surdo ao chegar deve facilmente localizar o balcão com intérprete; um visitante cego deve ser recebido com uma mensagem clara sobre como se deslocar e receber assistência. Também oriente o staff a oferecer ajuda ativamente – muitos podem ter receio de perguntar, então a equipe pode abordar gentilmente dizendo “Olá, caso precise de alguma assistência ou informação sobre acessibilidade, estamos à disposição”. Transparência e visibilidade dos recursos dão confiança ao público com deficiência de que serão atendidos em suas necessidades.
- Seja flexível e esteja pronto para adaptar: Por mais planejamento que se faça, imprevistos acontecem. O importante é ter uma postura proativa para resolver. Falhou a energia e o elevador parou? Tenha staff para auxiliar na escada ou gerador de backup. Apareceu um participante em cadeira motorizada extra larga que não passa em alguma porta? Veja a possibilidade de usar outra entrada de serviço ou rearranjar a circulação. Alguém solicitou um recurso não previsto (como um intérprete de um idioma de sinais específico)? Tente buscar na rede de contatos ou online emergencialmente. A empatia e criatividade na hora de solucionar problemas in loco valem muito. Mostre disposição em aprender com cada situação. Inclusive, após o evento, colha feedbacks dos visitantes com deficiência: o que funcionou bem, o que faltou. Use essas lições para aprimorar a acessibilidade nas próximas edições de forma contínua.
Seguindo essas sugestões, organizadores e expositores conseguem incorporar a acessibilidade de forma natural no evento, desde o princípio até a finalização. É um processo de melhoria contínua, mas que se paga – tanto pelo cumprimento legal quanto pela satisfação do público e ganho de imagem.
Um evento verdadeiramente para todos
Concluir uma feira ou exposição comercial com sucesso significa saber que todas as pessoas que quiseram participar puderam fazê-lo plenamente. A acessibilidade é o caminho para essa meta. Mais do que cumprir leis ou evitar multas, trata-se de criar eventos com alma inclusiva, onde cada visitante se sinta acolhido e respeitado em sua singularidade. Os exemplos práticos mostrados aqui evidenciam que acessibilidade não é teoria distante – ela já está acontecendo em diversos eventos, grandes e pequenos, no Brasil e no mundo.
Que este conteúdo sirva de inspiração e guia para organizadores e empresas: investir em acessibilidade é investir em qualidade, diversidade e alcance. É transformar boas intenções em ações concretas – uma rampa instalada, um intérprete contratado, um folheto adaptado – que juntas constroem uma experiência positiva para milhares de pessoas. E a recompensa vai além do retorno financeiro ou do atendimento a normas: é ver a alegria de um visitante com deficiência explorando todos os cantos da feira sem barreiras, é ganhar a fidelidade de um público antes negligenciado, é ser reconhecido como referência de responsabilidade social no setor de eventos.
Em um mercado cada vez mais competitivo, a acessibilidade torna-se sim um diferencial competitivo. Ela amplia o público, melhora a reputação e alavanca a inovação. Mais importante, a acessibilidade reforça o propósito primordial de qualquer encontro humano: conectar pessoas. Ao derrubar barreiras e abrir portas para todos, feiras e exposições se tornam, de fato, eventos para todos. Que cada vez mais organizadores adotem essa visão e colham os frutos de eventos verdadeiramente inclusivos, onde diversidade é celebrada e oportunidades são compartilhadas. Afinal, quando a acessibilidade é prioridade, todos ganham – empresas, público e a sociedade. Vamos em frente, fazendo de cada evento um espaço vibrante, acolhedor e acessível, onde “seja bem-vindo” seja uma realidade para cada visitante, sem exceção.

Imagem: Cinco mulheres posam sorrindo em frente a um estande identificado como “Espaço TEA”, parte do evento “Reatech + Expo Brasil Paralímpico”. Elas estão posicionadas diante de uma parede azul com elementos gráficos de inclusão e diversidade. / Foto retirada do site reatechbrasil.com.br