Arquitetura Inclusiva

arquitetura inclusiva

O desafio de trazer a acessibilidade para o centro dos projetos arquitetônicos

Quando se fala em arquitetura, logo pensamos em estética, design e na manifestação do belo. Esses quesitos tornam os arquitetos famosos e os projetos consagrados. A hora de introduzir nesses belos projetos a Acessibilidade, para muitos profissionais, se assemelha com a chegada do estraga-festas. “O piso tátil vai estragar a entrada de mármore” ou “o banheiro acessível vai ocupar muito espaço”. Apesar da conscientização dos profissionais sobre a importância da Acessibilidade na Arquitetura ter avançado bastante nos últimos anos, muitos ainda têm a ideia de que ser acessível é ser feio. “Houve avanço, mas até hoje a acessibilidade não é uma disciplina ministrada nos Cursos de Graduação de Arquitetura. A maior parte dos arquitetos, saem da faculdade achando que acessibilidade é só fazer uma rampa”, diz a arquiteta Gabriella Zubelli especialista em acessibilidade. 

Acessibilidade nos Jogos Olímpicos

Gabriella foi responsável pela acessibilidade dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do município do Rio de Janeiro em 2016. A arquiteta realizou um estudo preliminar da acessibilidade na Rússia e em Londres, ambos locais que já sediaram os jogos. Esse estudo levou o uso do Manual do Comitê como diretriz principal do projeto, já que as normas nacionais de acessibilidade (ABNT 9050) são diferentes das normas internacionais.

À convite do fundador do Guiaderodas Bruno Mahfuz, a arquiteta contou em uma live do Instagram que ficou muito entusiasmada em trabalhar no projeto da Vila Olímpica. Gabriella imaginava que as pessoas e empresas envolvidas na obra e arredores teriam grande interesse em implantar a acessibilidade, não só por conta da enorme quantidade de pessoas que viriam de todo o mundo com as mais diferentes necessidades, mas também por conta dos próprios atletas paralímpicos que estavam por vir. 

Para sua surpresa, houve muita resistência dos profissionais. A maioria queria fazer o mínimo. Não conseguiam entender porque se importar tanto com isso.

A importância da sensibilização da Arquitetura Inclusiva

Diante dessa situação, a arquiteta, que além de ser especialista em acessibilidade tem um irmão cadeirante, resolveu fazer programas de sensibilização dentro do canteiro de obras trabalhando com arquitetura inclusiva. Um deles, o “Não Sou Cadeirante e Se Fosse?”, foi aplicado para que os trabalhadores entendessem a real necessidade das pessoas com deficiência. Eles saíram pelas ruas de cadeira de rodas e vivenciaram a experiência de ser cadeirante por algumas horas. Essa sensibilização foi fundamental e evitou retrabalho. “Um dos pedreiros que participou da sensibilização, depois de ter finalizado a construção de uma rampa, sentou em uma cadeira de rodas e passou por cima para testar se tinha ficado bom”, revela a arquiteta. 

Com o objetivo de sensibilizar e trazer conhecimento à sociedade, Gabriella também desenvolveu um projeto chamado “Casa Conceito”, um ambiente para ser experimentado por todos com soluções em acessibilidade em produtos, serviços e tecnologia, que teve sua terceira edição na feira bienal Reatech.  

Na exposição, a arquiteta trabalhou em cada ambiente a experiência do usuário, levando em consideração diferentes deficiências: visual, auditiva e física. Gabriella ressalta que um ambiente nunca é 100% acessível. Ele deve ser projetado de acordo com a funcionalidade daquele espaço e a diversidade humana que o frequenta.

Itens que não podem faltar em um projeto acessível

Quando perguntada sobre itens importantes para um projeto acessível para pessoas com deficiência física, a arquiteta ressalta alguns: vãos de porta de 80 cm, espaços de circulação livres, revestimentos de piso adequados, ausência de tapetes ou carpetes. Os banheiros devem ser olhados com cuidado, pois é sempre lá que ocorrem as quedas. Quando se trata de uma pessoa idosa com mobilidade reduzida, nunca pode-se dar um apoio “de mentira”. Mobiliários estáveis e tapetinhos emborrachados trazem mais segurança e evitam acidentes.

Por fim, a arquiteta faz uma metáfora: “A acessibilidade equivale ao serviço dos lixeiros. Quando deixam de passar, todos sentem falta. A acessibilidade também é assim. Quando não há, todo mundo reclama. É bom para todos.”

Afinal, quem não gosta de conforto, segurança e autonomia?

Arquitetura inclusiva é bom para todos! Todos se beneficiam de uma boa acessibilidade.

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