Acessibilidade através dos espelhos

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Quando o assunto é acessibilidade, é bem provável que um dos últimos itens a serem lembrados são os espelhos

Nos parece óbvio pensar em rampas e sanitários para PCD, interpretadores de libras ou sinalização tátil, mas o espelho comumente visto como decorativo ou opcional, é um dos itens primordiais da acessibilidade.

Mas afinal para que servem os espelhos? Onde e como eles devem ser usados?

Espelhos nos elevadores

Conferir o visual é um ato quase intuitivo para quem entra no elevador, mas esta não é a função principal dos espelhos nesse espaço.

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Eles dão uma ideia de amplitude e amenizam sensações claustrofóbicas, mas muito além disso, cumprem as três premissas da acessibilidade: SEGURANÇA, CONFORTO E AUTONOMIA.

Mesmo em um elevador com dimensões generosas, nem sempre é possível ao cadeirante fazer uma manobra quando a cabine está lotada. É aí que entra o espelho! Quando instalado na parede oposta à porta, ele permite ao usuário de cadeira de rodas, observar obstáculos ao sair de ré.

Um espelho pode fazer com que o ambiente pareça mais amplo, mais iluminado, servindo de base para o contraste visual entre as paredes do elevador e a barra de apoio. Esse contraste é necessário porque pessoas com alterações na visão, como por exemplo os daltônicos, têm dificuldades para distinguir formas quando os tons são muito próximos.

Espelhos em sanitários e vestiários

Até 2015, a ABNT indicava a instalação de espelhos inclinados nos lavatórios de sanitários acessíveis. Essa medida permitia ampliar o ângulo visual de pessoas muito baixas ou sentadas em uma cadeira de rodas.

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Atualmente adota-se um espelho plano fixado diretamente sobre a parede, mas observando ainda a altura máxima de 90cm de sua base ao piso. Isso não impede de termos espelhos maiores que permitam a visão de corpo inteiro.

Quando associados aos espelhos planos, os espelhos de aumento com braço articulado são comuns em hotéis e residências. Geralmente retroiluminados, podem ser uma ótima opção para pessoas com a visão comprometida ou vista cansada. No entanto, este modelo não é o mais indicado em sanitários públicos, onde se deve considerar as diferentes estaturas e necessidades do usuário.

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A utilidade de um espelho não se restringe ao lavatório. É possível e desejável tê-los também em outros pontos, mesmo sem pias.

Nos vestiários, espelhos grandes instalados próximos aos locais para troca de roupa ajudam pessoas com limitações de movimento e facilitam o trabalho de quem as auxiliam no momento de se vestirem.

Os espelhos se mostram igualmente indispensáveis nos sanitários para pessoas ostomizadas. Diferentemente de um sanitário comum, aqui ele é útil à frente da bacia para facilitar a higienização. 

A legislação não deixa muito clara a sua obrigatoriedade, o que faz do sanitário para pessoas ostomizadas algo ainda pouco comum. Mas em locais de grande movimento como aeroportos, terminais rodoviários e shopping-centers, têm-se observado uma crescente atenção a esse público. Reflexo da conscientização e busca em se oferecer espaços includentes.

Espelhos em áreas de alimentação

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Outra aplicação importante dos espelhos são os locais para apoio de bandejas em restaurantes e refeitórios, onde alimentos e bebidas devem estar dentro do alcance visual de uma pessoa sentada. O ideal aqui é que o espelho seja anti-embaçante ajustado para permitir a visibilidade dos pratos nos rechauds. Essa medida amplia visualmente o espaço interno do buffet e valoriza as cores dos pratos, atuando como elemento estético, além de funcional.

Usos inadequados

Se por um lado os espelhos permitem ampliar o ângulo de visão de pessoas com restrições de mobilidade, por outro, seu uso em excesso ou de forma inadequada pode gerar confusão na leitura e assimilação da informação. 

Por exemplo, se instalarmos dois espelhos formando entre si um ângulo de 90º observamos a formação de três imagens, enquanto dois espelhos instalados frontalmente geram imagens infinitas.

Ambas as situações são desfavoráveis.

A multiplicação de imagens pode causar confusão óptica, desorientação e a consequente tomada de decisão equivocada. 

Essa mesma sensação pode ser causada quando os espelhos são instalados muito próximos ao piso. Para evitá-la, trinta centímetros é a altura mínima recomendável que se deve deixar entre o piso e a base do espelho. Da mesma forma, deve-se antever os efeitos que um espelho poderá ter, dependendo da superfície em que for instalado. Em instalações sanitárias, por exemplo, é muito importante que o espelho não coloque em risco a privacidade do usuário.

Placas de sinalização e materiais de revestimento com propriedades altamente reflexivas também podem ser prejudiciais e dificultar a orientação de pessoas com baixa visão. Nesses casos, deve-se optar por materiais não reflexivos.

Texto produzido para Leroy Merlin


Cristiane Kröhling Bernardi

Cristiane Kröhling Bernardi
Arquiteta e Urbanista graduada pela PUC-Campinas, Mestre e doutoranda pelo IAU- Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP. Possui vasta experiência projetual e docente, concentrando pesquisas em Acessibilidade e Mobilidade Urbana.

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