A “Biblioteca Acessível” é uma plataforma de ensino composta por um tablet, software para escrita e leitura, película de suporte à digitação e dispositivo portátil de leitura em braille
A pandemia trouxe a necessidade do ensino remoto, porém, a migração da sala de aula para os dispositivos digitais escancarou desigualdades. No caso dos alunos com deficiência visual, por exemplo, isso dificultou o processo de aprendizagem, uma vez que não foi possível para eles acompanharem uma apresentação de slides ou assistirem a um vídeo sem audiodescrição.
Para diminuir esses impactos, o desenvolvedor de software Heyde Leão, 42, de Fortaleza (CE), criou a “Biblioteca Acessível”, plataforma de ensino composta por um tablet, software para escrita e leitura, película de suporte à digitação e dispositivo portátil de leitura em braille.
Créditos: Reprodução/Instagram Biblioteca Acessível
O bluetooth é o que faz a invenção funcionar, pois ele aciona o programa instalado no mouse para realizar a leitura de todas as palavras que aparecem na tela do tablet. Isso também permite a transcrição automática dos textos para o código braille. Por meio da ferramenta, as pessoas com deficiência conseguem escutar o áudio dos livros que estão armazenados na memória interna do equipamento.
Segundo o desenvolvedor, o objetivo da ferramenta é possibilitar a navegação autônoma a estudantes cegos ou com baixa visão, ajudando a acessibilidade do ensino remoto. A ideia surgiu antes da pandemia, pensando em um cenário de educação à distância, mas a efetividade da criação ficou ainda maior agora, apesar de também ser útil para o ensino em sala de aula.
Desde o começo do isolamento social, Heyde tem ido a cidades do Ceará e de estados vizinhos para falar sobre a iniciativa a prefeitos e secretários de educação, e mostrar a necessidade de investir para melhorar a educação a estudantes com deficiência. A plataforma também foi apresentada à Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, vinculada ao Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos (MDH).
Atualmente, o desenvolvedor aguarda retorno da prefeitura de Fortaleza e de municípios do interior do estado, no entanto, a questão deveria ser mais prioritária. ”Escuto relatos de crianças e jovens com deficiência visual que estão sofrendo muito por estarem afastados, não da escola, mas do conhecimento”, declarou ao jornal O Povo.
“Os alunos que não têm deficiência, ainda que tenham dificuldades, recebem conteúdos e conseguem fazer suas atividades. As crianças que não enxergam não têm sequer essa possibilidade. A nossa proposta, com essa ferramenta, é suprir essa carência. Isso deveria ser pensado com urgência pelas gestões e por todas as escolas, públicas ou privadas, de um modo geral”, reiterou o criador da ferramenta.
Heloisa Aun
Jornalista e estudante de Letras na USP, trabalha desde o início da carreira com a temática dos direitos humanos e meio ambiente. Nos últimos anos, idealizou campanhas de combate ao assédio sexual e à violência doméstica. Também atua na área de educação em organizações e projetos sociais.