A língua de sinais transformou a vida do Professor Manolo que agora busca impactar 100 mil brasileiros com ‘Libras-edutainment’ e contribuir com a inclusão e acessibilidade dos surdos.
Ele tinha dez anos quando foi diagnosticado com TDAH – Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, e isso podia explicar, entre outras coisas, porque ficava inquieto nas reuniões religiosas que frequentava com sua família. Sua mãe relata que ele ficava correndo de um lado para outro entre as cadeiras do salão e não prestava atenção aos ensinamentos bíblicos que eram narrados e discutidos no púlpito.
Ao pesquisar sobre o recente diagnóstico do filho, Denise, mãe do Manolo, descobriu em um livro que pessoas com TDAH têm mais facilidade com atividades visuais do que auditivas. Ela teve então a ideia de colocar a agitada criança para acompanhar os ensinamentos religiosos junto ao núcleo de pessoas surdas, em Libras.
“Foi amor à primeira vista”, diz o, hoje professor, Manolo.
“Aqueles movimentos com as mãos e as expressões faciais e corporais do intérprete de Libras prendiam minha atenção. Eu ficava alí, quietinho e focado, prestando atenção aos ensinamentos que agora eu estava acessando através da língua de sinais”.
A partir de então, Manolo passou a conviver diariamente com amigos surdos.
“Para tudo o que eu ia fazer eu chamava um amigo surdo: jogar videogame, ir na praça da cidade comer um lanche, brincar, viajar, sempre tinha um amigo surdo comigo. Então eu ia aprendendo Libras diante das situações que aconteciam nesse convívio diário. Se eu queria pedir um copo de água e ainda não sabia esse sinal, ficava fácil porque na hora já íamos à cozinha e eu assimilava aquele novo sinal junto com a forma correta de formar a frase em Libras para pedir um copo d’água”.
Esse aprendizado natural, no convívio cotidiano, permitiu ao Manolo se desenvolver desde cedo na cultura surda, e ainda na adolescência passou a ser um intérprete para os amigos surdos na relação com o mundo ouvinte que não falava em Libras.
“Muitas vezes um surdo adulto que eu conhecia precisava ir ao banco, por exemplo, saber sobre uma taxa que estava sendo cobrada no seu extrato, ou buscar qualquer tipo de informação que não estivesse disponível em Libras para eles, então essa intermediação entre surdos e ouvintes, Libras e português, foi acontecendo de forma natural para mim, na vivência real”.
Essas experiências deram ao Manolo uma visão precisa das barreiras de comunicação enfrentadas cotidianamente pelos surdos, da carência de conhecimento de Libras por parte dos ouvintes, mesmo nos serviços e relações afetivas essenciais a qualquer pessoa, a qualquer cidadão, e esse gatilho despertou nele a necessidade de ensinar Libras às pessoas ouvintes, mas isso não se daria de uma forma comum, e sim da forma como ele aprendeu: vivendo e experimentando a Libras naturalmente diante das situações comuns do dia a dia.
Surge o Libras Experience
Era primavera de 2017 quando Manolo reencontrou Marcio, também jovem empreendedor da área de Educação de quem havia sido sócio em uma escola de cursos livres profissionalizantes três anos antes. Naquela altura, o já ‘professor e intérprete de Libras’ Manolo tinha acumulado conquistas e vasta bagagem profissional junto à Língua Brasileira de Sinais.
Este reencontro com Marcio começou dar forma ao DuoLibras, uma startup que nasceria com o objetivo de facilitar o aprendizado de Libras para ouvintes e pavimentar o propósito de incluir os surdos por meio da comunicação. Mas não poderia ser de uma forma comum e pouco atrativa. Tinha que trazer impacto e novidades para despertar nas pessoas a curiosidade e interesse em experimentar se comunicar neste idioma, e assim como aconteceu com o professor Manolo, ter neste processo de aprendizagem a oportunidade de descobrir e desenvolver novas habilidades, além de, como resultado, transformar-se em um agente de inclusão em um país que exclui os surdos por não saber se comunicar com eles.
Mas como reproduzir de uma forma escalável e atrativa a trajetória de aprendizado de Libras do Manolo que havia aprendido in loco, com os próprios surdos, no dia a dia, de forma natural e com o mínimo de esforço?
Nasce então a primeira web série em Libras que traz histórias inspiradas na realidade vivida pelos surdos, com estrutura pedagógica que segue a base de aprendizagem do ‘Cone of Experience’ de Edgar Dale e apresenta o ‘edutainment’ ao ensino de Libras online.
São experiências em vídeo aulas de 18 minutos* que buscam prender a atenção do aluno com as histórias e emoções de personagens surdos interpretados pelo próprio professor Manolo que faz as intervenções durante o vídeo para ensinar passo a passo, sinal por sinal, como um ouvinte pode se comunicar em Libras.
O curso Libras Experience, baseado nesta websérie autoral, já impactou 5 mil alunos desde 2018 e tem atraído o interesse das grandes empresas brasileiras que vêm descobrindo o valor de gerar a inclusão dos surdos dentro e fora das suas paredes ao propiciar aos seus colaboradores ouvintes novas descobertas e habilidades com o aprendizado da Libras.
Respostas de 8
Também gosto de Libras. E também aprendi no Salão, frequentando as Reuniões em LS.
olá, sou surda .quero aprender
Muito obrigado por nos ajudar a propagar nosso propósito, Guia de Rodas. Contar com esse apoio nos fortalece e nos unifica em busca de um bem maior: a inclusão como um todo. Um abraço da equipe DuoLibras – Curso Libras Experience.
Achei interessante a história da experiência
muito boa a reportagem
Muito bom ,eu amo língua de sinais mas não aprendi ainda
Sou professora de 1° ao 5° ano já me deparei com alunos surdo , percebi a dificuldade que eles tinha em se comunicar com os outros colegas. Hoje com a língua de sinais eles podem interagir totalmente com as outras crianças .
Notícia fantástica!!
amo Libras, e tenho um pouco de conhecimento, pretendo me especializar na área. Parabéns pelo trabalho a favor da acessibilidade.