Acessibilidade e inclusão no mundo dos eSports e games

acessibilidade eSports

Na última década, os eSports se tornaram um grande fenômeno mundial. No entanto, um fator importante não acompanhou o crescimento exponencial deste universo gamer: a acessibilidade. 

Na última década, os eSports se tornaram um grande fenômeno mundial. Só no Brasil, no ano passado, o número de espectadores dos jogos eletrônicos chegou a 24 milhões de pessoas. Isso sem falar nos videogames usados como lazer, que estão presentes no nosso cotidiano há bastante tempo. No entanto, um fator importante não acompanhou o crescimento exponencial deste universo gamer: a acessibilidade. 

De acordo com dados da AbleGamers, organização dedicada a melhorar a acessibilidade dos games, em 2020, só nos Estados Unidos, 20% do total de jogadores apresentavam alguma deficiência, o que corresponde a cerca de 46 milhões de pessoas. Assim, a discussão sobre maior inclusão nos eSports se faz necessária e tem ganhado mais visibilidade ao redor do mundo. 

E o debate é bastante amplo, já que precisa abordar deficiências auditivas, visuais e físicas, além das necessidades específicas de cada uma delas, tanto no campo profissional, como no lazer.

Adaptando realidades

Pensando nas deficiências físicas, por exemplo, as adaptações podem ser as mais diversas possíveis, desde um controle diferente até o uso de reconhecimento de voz. Este último é o caso do streamer Neto Trindade, conhecido como NoHands, que sofreu um acidente de moto e ficou tetraplégico. Hoje, para poder jogar, ele utiliza também um programa que transforma os movimentos de sua cabeça em movimentos do mouse, além de um controle adaptado chamado quadstick. 
No âmbito de competições profissionais, a inclusão também vem sendo uma bandeira levantada, já que mais gamers têm lutado pela causa. É o caso, por exemplo, do grupo Fallen e Amigos, criado por Gabriel “FalleN” Toledo, jogador de Counter-Strike, e que tem como objetivo incluir pessoas com qualquer tipo de deficiência no mundo do eSport.

Com o crescimento do interesse de pessoas com deficiência pelos eSports e games e uma demanda cada vez maior por adaptações, algumas empresas começaram a se especializar neste segmento, como a SpecialEffect e a AbleGames, além de marcas tradicionais como EA e Xbox.

“Usando tecnologias que variam de joypads modificados a controle de olho, estamos descobrindo uma maneira de as pessoas jogarem com o melhor de suas habilidades. Mas não estamos fazendo isso apenas por diversão. Ao nivelar o campo de jogo, estamos reunindo famílias e amigos e tendo um impacto profundamente positivo na qualidade de vida”

explica a SpecialEffect em seu site. 

Legenda e Libras

Além da acessibilidade para pessoas com deficiência física, há de se falar também sobre as pessoas com deficiência auditiva. A discussão é baseada na importância do uso de legendas e/ou Libras (Línguas Brasileira de Sinais) nos jogos para auxiliar e melhorar a experiência dos destes jogadores.

Por isso, várias iniciativas têm sido criadas, como a Rise Academia, que busca promover aulas de Libras para ouvintes e surdos que não saibam a língua e que acompanham ou trabalham com eSports. E a Liga dos Surdos, criada em 2019, que realiza campeonatos para jogadores surdos, como Lol, CS:GO, Fortnite, Valorant, Teamfight Tactics, além de contar com um quadro de intérpretes de Libras. 

Além disso, um passo importante pode ser dado pela Riot Games Brasil no Campeonato Brasileiro de League of Legends, o CBLoL, maior torneio do país. Neste ano, o líder de eSports da empresa, Carlos Antunes afirmou que o uso de intérpretes de Libras nas transmissões está nos planos. 

“Futuramente, está nos nossos planos. A gente entende que isso precisa ser discutido, não só nos eSports, mas também nos jogos. Estamos em contato com algumas pessoas da comunidade para definir e operar este processo, e também começar com programas para avaliar como podemos trazer isso para as transmissões”. 

Representatividade

Além da falta de acessibilidade e inclusão, os eSports e games em geral carecem também de representatividade. Isto significa que é muito raro vermos protagonistas, dentro dos jogos, com algum tipo de deficiência. 

E exatamente para combater isso, foi lançado o game Gravitational. É um jogo de Realidade Virtual e de ficção científica, no qual você entra na pele de um cientista cadeirante. O objetivo é resolver uma série de situações em complexo sem gravidade para poder sobreviver. E segundo Hugo Campos, criador do game, a falta de acessibilidade dos espaços é o maior empecilho do jogador, assim como é na vida real. 

Portanto, o game vem justamente para conscientizar a população sobre os desafios enfrentados no dia a dia por pessoas com deficiência, que, por sua vez, também precisam se sentir representadas e incluídas em todo e qualquer tipo de espaço. 

Afinal de contas, se podemos criar novos mundos e realidades através dos jogos eletrônicos, porque não aproveitar para fazê-los de forma inclusiva e acessível, servindo de exemplo para o que se tem hoje no mundo real?

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Fernanda Zalcman
Jornalista, curiosa por natureza e apaixonada por fazer a diferença. Encontrou no esporte um propósito: inspirar e dar voz à histórias e pessoas que por vezes estão escondidas. Porque todos importam e merecem espaço!

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