O judô paralímpico brasileiro vive um momento especial: um encontro de gerações entre dois craques
O judô paralímpico brasileiro vive um momento especial: um encontro de gerações entre dois craques. De um lado, o tetracampeão paralímpico, Antonio Tenório, de 50 anos. Do outro, a primeira brasileira campeã mundial da modalidade, Alana Maldonado, com metade da idade. Apesar da diferença etária, os dois são os maiores nomes do judô na atualidade e pretendem brilhar nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020.
Recentemente, Antônio Tenório ganhou a batalha mais importante da sua vida: contra a Covid-19. O judoca ficou cerca de um mês internado após testar positivo, mas conseguiu se recuperar. E exatamente 30 dias depois, ele recebeu a primeira dose da vacina destinada aos atletas que vão para os Jogos de Tóquio.
Mas a história de Tenório começou lá atrás, aos 13 anos. Em uma brincadeira, ele levou uma estilingada de semente de mamona, perdendo a visão do olho esquerdo. Seis anos depois, uma infecção tirou a visão do outro olho, deixando-o completamente cego.
O judô, no entanto, já estava na vida de Antônio Tenório muito antes, desde os sete anos. Com o passar do tempo, o que era um lazer virou profissão. E aos 26 anos, ele disputou sua primeira Paralimpíada, em Atlanta-1996, voltando para casa com a medalha de ouro. O retorno ao Brasil, entretanto, não foi fácil. Ele perdeu todos os patrocínios e pensou em desistir do judô. Mas incentivado pelo técnico, seguiu firme e nunca mais parou.
Assim, desde Atlanta, Tenório conquistou medalha em todas as edições dos Jogos Paralímpicos. Foi ouro em quatro Paralimpíadas seguidas, se consagrando como o único atleta a obter quatro medalhas de ouro consecutivas no judô paralímpico. Além disso, em Londres 2012, ele foi bronze e na Rio 2016, prata.
A nova geração do judô
Vinte e cinco anos depois do nascimento de Antônio Tenório, chegava ao mundo mais uma estrela do judô: Alana Maldonado. Aos 14 anos, ela descobriu que tinha a doença de Stargardt, uma patologia degenerativa que afeta a visão central, sobretudo em jovens, mas não prejudica a visão periférica do indivíduo.
Como já praticava judô convencional desde os quatro anos, a paulista, natural de Tupã, ingressou na versão adaptada da modalidade, anos mais tarde, ao entrar na faculdade. E não demorou para ela despontar no cenário nacional e internacional como uma grande promessa.
Promessa essa que logo se tornou realidade. Aos 21 anos, ela participou de sua primeira Paralimpíada, no Rio de Janeiro, em casa. E logo na estreia, Alana Maldonado espantou o nervosismo e conquistou a medalha de prata.
Dois anos depois, ela fez história. Em Lisboa, Portugal, Alana se tornou a primeira mulher brasileira a ser campeã mundial de judô paralímpico, se consolidando no topo do ranking de sua categoria, onde está até hoje.
Prontos para Tóquio
Antônio Tenório e Alana Maldonado chegam para os Jogos Paralímpicos de Tóquio em momentos diferentes da carreira. Ambos medalhistas e favoritos, mas com pretensões distintas.
Aos 50 anos, Tenório se prepara aos poucos para se despedir dos tatames, quem sabe com mais um pódio paralímpico. Enquanto Alana Maldonado vai em busca da primeira medalha feminina do Brasil no judô em Paralimpíadas. Esta que pode ser – e deve – a segunda de muitas que virão para paulista nos próximos e muitos anos de carreira pela frente.
De qualquer forma, nos resta apreciar esse encontro de gerações que já é histórico. E torcer muito pelos nossos judocas no Japão, entre os dias 27 e 29 de agosto!
Fernanda Zalcman
Jornalista, curiosa por natureza e apaixonada por fazer a diferença. Encontrou no esporte um propósito: inspirar e dar voz à histórias e pessoas que por vezes estão escondidas. Porque todos importam e merecem espaço!
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