Cidades Inteligentes Inclusivas

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Como a acessibilidade urbana impacta a vida dos cidadãos das Cidades Inteligentes ou Smart Cities

Há cada vez mais gente vivendo em cidades e a proporção de pessoas vivendo nas zonas urbanas vem superando a de pessoas vivendo nas zonas rurais. 

Segundo estudo do Departamento das Nações Unidas para assuntos econômicos e sociais World Urbanization Prospects, estima-se que até 2050 dois terços da população mundial estará nos centros urbanos.

O acelerado crescimento populacional resultante do processo de urbanização sem o devido planejamento gerou uma série de problemas sociais nas cidades: dificuldades ao acesso à moradia, violência, desemprego e exclusão social. 

Apesar da alta densidade dessas cidades causar inúmeras adversidades, o uso da tecnologia tem propiciado grandes oportunidades de gerar ganhos de eficiência, reduzir consumo de energia e melhorar a mobilidade, tornando as cidades mais humanas, inteligentes e inclusivas. 

Surge então um termo voltado ao mercado que fomenta debates acadêmicos e está chamando a atenção de diversos profissionais: Cidades Inteligentes (Smart Cities).

O que são Cidades Inteligentes (Smart Cities)?

São as cidades que utilizam as tecnologias da informação e comunicação para aumentar a eficiência operacional, compartilhar informações com o público e melhorar a qualidade dos serviços governamentais e o bem-estar dos cidadãos.

É um termo “guarda-chuva” para se referir à utilização de tecnologia para melhorar a qualidade de vida em ambientes urbanos.

Quais são os critérios de avaliação de uma Cidade Inteligente?

O IESE Business School, uma entidade filiada à Universidade de Navarra, na Espanha, criou o “Cities Motion Index”, ou seja, um índice que busca avaliar e nomear os agrupamentos urbanos a partir de atributos que se enquadrem na tipologia de cidades inteligentes, levando em consideração nove critérios:

  1. Capital Humano: Capacidade de atrair e manter o ser humano, levando em consideração o nível de escolaridade e o acesso à cultura. 
  2. Aspectos Sociais: As formas de interação entre as classes sociais, bem como o acesso à saúde, educação, taxas de imigração, dentre outros. 
  3. Aspectos Econômicos: Geração de empregos e a qualidade dos mesmos, bem como os serviços, inovação e planos de desenvolvimento. 
  4. Administração: Forma como poder público ministra a cidade e a eficiência das medidas estatais. 
  5. Conservação da Natureza: Avalia a forma pela qual a cidade busca a sustentabilidade, levando em consideração a mitigação de impactos ambientais. 
  6. Mobilidade Urbana: Analisa as formas de mobilidade, bem como suas conexões e tecnologias. 
  7. Planejamento Urbano: Verifica a qualidade e acesso aos itens básicos de sobrevivência, tais como o saneamento básico, moradia, qualidade de vida, e os planos futuros de melhoria. 
  8. Vínculos Internacionais: Considera o reconhecimento internacional da cidade, tanto como exemplo de inovação tecnológica, como pelas conexões existentes. 
  9. Inovações tecnológicas: Aspecto de maior importância, que visa reconhecer como a tecnologia está sendo utilizada em prol da melhoria urbana. 

A partir dessa classificação, foi criado um ranking com as cidades mais inteligentes do mundo, lançado anualmente para divulgar boas práticas de planejamento e modernização urbana.Ano após ano, a primeira posição no ranking vem sendo disputada por Londres e Nova York, duas cidades altamente desenvolvidas e inteligentes. Após três anos consecutivos com Nova York no topo, Londres recuperou a primeira posição, seguida por Nova York (# 2) e Amsterdã (# 3). Veja o ranking de 2019:

As 10 Cidades Mais Inteligentes do Mundo

RANKINGCIDADEPERFORMANCECIMI
1Londres, Reino UnidoH100,00
2Nova York, Estados UnidosH94,63
3Amsterdã, HolandaRH86,70
4Paris, FrançaRH86,23
5Reiquiavique, IslândiaRH85,35
6Tóquio, JapãoRH84,11
7Singapura, SingapuraRH82,73
8Copenhague, DinamarcaRH81,80
9Berlim, AlemanhaRH80,88
10Viena, ÁustriaRH78,85

Fonte: IESE Cities in Motion Index

Acessibilidade Urbana

Neste contexto de busca de soluções para mitigar e aprimorar os critérios para uma Cidade Inteligente, questões ligadas à acessibilidade surgem de forma proeminente, principalmente considerando o aumento da conscientização pela igualdade de direitos das pessoas. 

Em 2018 foi realizada em todos os estados do Brasil, uma pesquisa pela Hello Research Smart Cities com apoio da Prefeitura da Cidade de São Paulo com o objetivo de ENTENDER COMO O CIDADÃO URBANO E DIGITALIZADO ENXERGA A VIDA NAS CIDADES BRASILEIRAS

cidade inteligente vaga cadeira de rodas

Confira alguns dos resultados das entrevistas realizadas com pessoas com deficiência e/ou cuidadores ou familiares:

  • 86% encontram muitos problemas ao circular pelas calçadas de sua cidade
  • 67% consideram que o transporte público está despreparado para atender pessoas com deficiência  
  • 51% sentem dificuldade em encontrar vagas para pessoas com deficiência ao se deslocarem de carro 
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As más condições de acessibilidade do passeio público são sempre mencionadas pelas pessoas com deficiência. Dentre os entrevistados, as principais dificuldades enfrentadas nas calçadas são:

  • Buracos e irregularidades no piso
  • Degraus / grandes desníveis  
  • Falta de rampas e guias rebaixadas  
  • Falta de sinalização para pessoas com deficiência visual
  • Obstáculos (postes, árvores, mobiliário urbano) 
cidade inteligente onibus

Quando o assunto é transporte público, as principais dificuldades citadas pelas pessoas com deficiência são:

  • Desrespeito aos lugares exclusivos para pessoas com deficiência
  • Motoristas e profissionais despreparados
  • A lotação do transporte impede quem tem deficiência de acessar
  • Falta de sinalização para pessoas com deficiência visual  
  • Faltam ônibus adaptados para pessoas em cadeira de rodas
  • Faltam rampas e elevadores nos terminais de ônibus
  • Os ônibus são altos demais/não consigo subir
  • Os ônibus não param nos pontos para quem tem deficiência
  • Faltam rampas e elevadores nas estações de Metrô/Trem
cidade inteligente carro adaptado

21% das pessoas com deficiência entrevistadas possuem carro adaptado. Ao serem perguntadas sobre as dificuldades apresentadas para conseguir o carro adaptado, os seguintes motivos foram mencionados:

  • Valor do carro é muito caro
  • Burocracia
  • Demora a liberação da isenção

Dentre os entrevistados 79% fazem uso de carros por aplicativos e a grande maioria declarou não apresentar dificuldades em utilizá-los.

Ranking de acessibilidade de São Paulo

Em 2018, o Guiaderodas elaborou um estudo sobre a acessibilidade dos distritos da cidade de São Paulo. Em parceria com o Laboratório de Cidades Inteligentes da USP (InterSCity), o estudo analisou mais de uma dezena de diferentes bases de dados abertas sobre o município.

Foram avaliados diferentes critérios referentes à topologia da cidade, à mobilidade urbana (como acesso a transporte público adaptado para pessoas com deficiência e a oferta de vagas de estacionamento reservadas) e as avaliações dos usuários da plataforma Guiaderodas, guia colaborativo de acessibilidade para pessoas com dificuldade de locomoção.

Considerando o tamanho massivo da cidade, a oferta de dados abertos é relativamente escassa. Além de servir como ponto de partida para uma análise mais profunda da acessibilidade da metrópole, os resultados reforçam a necessidade da criação de uma metodologia quantitativa com critérios bem definidos para análise crítica dos desafios de acessibilidade em ambientes urbanos.

O termo “Cidades Inteligentes” provoca uma série de imagens. Edifícios acessíveis e sustentáveis ​​que se monitoram e se gerenciam, veículos autônomos que interagem e nos levam com segurança para qualquer destino. Além disso, uma gama crescente de benefícios possibilitados pela conectividade e ágil colaboração de seus cidadãos. Mas no meio de tudo isso, há um enorme ganho que geralmente é esquecido: as cidades inteligentes tem o poder de levar a acessibilidade e a inclusão a um nível totalmente novo, trazendo uma variedade de soluções para melhorar a autonomia de pessoas com deficiência.

Exemplos de Soluções das Cidades Inteligentes

  • Temporizadores sonoros que dão informação sobre o tráfego e auxiliam a travessia de pedestres com deficiência visual;
  • Aplicativos de mobilidade colaborativos (crowdsourcing) como o Guiaderodas para ajudar a planejar seus destinos e conferir as condições de acessibilidade dos estabelecimentos;
  • Recurso de texto alternativo para traduzir elementos visuais, como mapas, gráficos e imagens em todos os meios de transporte

As Cidades Inteligentes Inclusivas representam uma escala imensa. Segundo estimativas atuais, o mercado de cidades inteligentes deve crescer de US $ 308 bilhões em 2018 para US $ 717 bilhões em 2023. 

Cidade Inteligente não é aquela cidade futurística que se vê em propagandas de tecnologia, com construções monocromáticas de metal, repleta de robôs e sem seres humanos. Pelo contrário, são espaços urbanos humanizados e eficientes para todos.

Em tempos de pandemia, mais do que nunca, o conceito de Cidade Inteligente tão discutido nos últimos anos vem para questionar onde queremos viver neste século XXI. Viver bem e entregar para as próximas gerações uma cidade melhor é fundamental para garantir a sustentabilidade de nossas cidades e permitir que os cidadãos do futuro tenham recursos para uma vida plena e digna.

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