A professora ficou desconfiada que havia alguma coisa errada e foi conversar com os meus pais…ela falou ´é o seguinte, toda vez que eu chamo as crianças para entrarem na sala ela não vai e fica brincando no parquinho. Vai ao hospital e verifica se ela tem alguma deficiência auditiva`. Meus pais olharam pra ela e disseram ‘impossível’. Eles me levaram ao médico e, realmente, eu era surda.
Morgana Siqueira
O depoimento acima foi dado por Morgana Siqueira, Secretária Nacional da Diversidade Surda no Brasil, para o perfil de Instagram Movimento Corpo Livre. Muitas crianças passam por situações similares às de Morgana: segundo um levantamento feito pelo Ministério da Saúde, a cada 10 mil crianças nascidas no Brasil, 30 têm deficiência auditiva.
As causas para tanto podem variar: em alguns casos, a surdez pode ser causada por doenças infecciosas adquiridas pela mãe durante a gravidez, tais como sífilis, rubéola, toxoplasmose e citomegalovirus. Em outros, a deficiência auditiva está relacionada à genética, prematuridade ou baixo peso do bebê.
Independente do motivo que a ocasiona, quanto mais cedo o diagnóstico for feito, mais fácil será para a criança aprender a falar e a interagir com o mundo! Por isso, separamos algumas dicas de especialistas que podem ajudar pais, professores e educadores a saberem quando é necessário buscar ajuda médica:
Ainda na maternidade
Desde 2010, é obrigatório por lei que todas as maternidades ofereçam o teste da orelhinha, também chamado de triagem auditiva neonatal. Trata-se de um procedimento completamente indolor, que mede as reações do bebê a estímulos auditivos. Muito embora o ideal seja que o exame seja realizado logo após o nascimento, esse exame não é feito em bebês prematuros, uma vez que seu sistema auditivo pode não se encontrar 100% desenvolvido.
Vale ressaltar que esse exame funciona como uma ‘triagem’, ou seja, não passar no teste não significa necessariamente que o bebê será surdo, e sim que são necessários novos exames para monitorar os resultados.
Nos primeiros meses de vida
Entre os 3 e quatro meses de vida, os bebês já conseguem movimentar o pescoço e reagem virando a cabeça quando escutam seus nomes, além de desenvolverem o chamado ‘riso social’, que é uma risada em resposta ao som da voz dos pais. Caso isso não aconteça, pode ser hora de procurar um médico para realizar um teste auditivo. Outro ponto comum nesta faixa etária é que, quando estão chorando, os bebês sem problemas de audição se acalmam ao ouvirem a voz da mãe, ao passo que os bebês com alguma deficiência auditiva apenas param de chorar ao verem o seu rosto.
Em idade escolar
A American Hearing Health Foundation elaborou algumas orientações que podem ajudar pais e professores a detectarem possíveis perdas auditivas em crianças. São elas:
- A criança parece ouvir bem algumas vezes, outras não responde ao ser indagada;
- Se ela assiste TV num volume muito mais alto que outros membros da família;
- Se ela posiciona um dos ouvidos para a frente quando está ouvindo e reclama que só escuta com o “ouvido bom”;
- Seu rendimento escolar cai ou os seus professores falam que ela parece não ouvir ou responder bem como os colegas de classe;
- Ela parece ser desatenta;
- Ela fala muito alto;
- Ela olha para você com muita intensidade quando você fala com ela, como se dependesse mais dos sinais visuais para interpretar a conversa.
Caso o diagnóstico seja positivo, não há o que temer: o mais importante é que a surdez não seja encarada como um fator limitante, e sim como uma característica. Uma alternativa bastante enriquecedora é apresentar à criança a comunidade Surda e a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), possibilitando que ela tenha referências de pessoas surdas – para saber mais sobre o tema, confira nossa matéria que explica as diferenças entre Surdez, surdez e deficiência auditiva!
Renata Schmidt
Relações Públicas e jornalista. Acredita que todo mundo tem uma história que vale a pena ser contada.