Atendimento e cuidado odontológico adequados previne complicações da Covid em pessoas com deficiência
Em época de pandemia é essencial cuidar de si mesmo e do outro, tomando todas as medidas de prevenção. Mas você sabia que a saúde bucal também é uma forma de proteção contra a covid?
Segundo a especialista em Odontopediatria e Ortodontia Luciana Bortoluzzi, pacientes com doenças periodontais têm maiores chances de apresentar complicações em caso de contaminação pela doença em relação aos que não possuem. Por isso é tão importante o cuidado odontológico, principalmente em pessoas com deficiência, que apresentam como adversidades mais comuns as doenças periodontais e cáries.
Conforme dados da Organização Mundial da Saúde de 2012, existem mais de um bilhão de pessoas com deficiência, o que corresponde a aproximadamente 15% da população de todo o mundo. Por estarem no grupo de risco da Covid, o cuidado para com elas deve ser redobrado. Dependendo das limitações, muitas precisam se apoiar nos lugares e contar com a ajuda de cuidadores, o que aumenta a possibilidade de contágio e torna mais difícil manter o distanciamento social.
Além dos cuidados para evitar a contaminação pela Covid, saber como manter a saúde bucal é uma importante forma de prevenção contra as complicações da doença.
Pacientes com necessidades especiais na odontologia
O conceito de paciente com necessidades especiais na odontologia, para o Ministério da Saúde, compreende todo “usuário que apresente uma ou mais limitações, temporárias ou permanentes, de ordem mental, física, sensorial, emocional, de crescimento ou médica, que o impeça de ser submetido a uma situação odontológica convencional”. O cuidado e a consulta periódica ao dentista são essenciais, pois estas pessoas nem sempre conseguem manter uma higiene bucal cotidiana adequada.
Atendimento odontológico a pessoas com deficiência
A dentista Luciana relata que cada tipo de deficiência possui suas particularidades, por isso demanda certo tipo de cuidados diferentes. “Algumas acometem o sistema cardíaco, e esses pacientes têm que fazer uso de medicação com antibiótico antes dos atendimentos. Outras acometem o sistema motor, sendo necessário adequar a cadeira com travesseiros para que o paciente fique mais confortável”, exemplifica.
O contato com o médico desse paciente deve ser feito sempre que possível com o intuito do profissional odontológico conhecer mais sobre a pessoa e suas medicações. Esse profissional também deve ser atencioso e paciente, criando vínculos de confiança com o ele e sua família.
Segundo o Ministério da saúde, o atendimento odontológico é um direto a pessoas com deficiência, envolvendo no sistema público a atenção primária à saúde, atenção especializada e até mesmo a atenção hospitalar.
Problemas bucais mais frequentes
Apesar de cada tipo de deficiência ter sua particularidade, os problemas bucais mais frequentes em pessoas com deficiência são as cáries e os problemas periodontais:
- gengivite (gengivas ficam inchadas e retraídas).
- periodontite (agravamento da gengivite a partir de infecção bacteriana no periodonto, região entre os dentes e a mandíbula. Pode resultar até mesmo na perda dentária).
A maior exposição ao risco de problemas bucais também ocorre devido a medicações usadas por muitos pacientes que alteram o fluxo salivar. Dietas muito pastosas também contribuem para o não desenvolvimento dos ossos da face e a dieta cariogênica aumenta a incidência de cáries.
A dieta cariogênica é aquela rica em quantidades de açúcar, gordura e sal, além de carboidratos fermentáveis que reduzem o ph salivar. Estes alimentos incluem refrigerantes, bolachas, doces, salgadinhos, entre outros.
Por outro lado os procedimentos clínicos mais realizados são as profilaxias: limpeza dos dentes, raspagem de tártaros, restaurações e exodontias (extração dentária).
Principais dificuldades dos profissionais odontológicos
A dentista Luciana Bortoluzzi, relata as principais dificuldades dos profissionais odontológicos para lidar com pessoas com deficiência:
- Falta de estrutura física: Ainda existe muita falta de acessibilidade, que começa desde a saída de casa até a chegada ao consultório, onde também é comum a falta de estrutura física adequada para recebê-los, bem como materiais próprios para o atendimento.
- Falta de informações pelo paciente: Na maioria das vezes a consulta ao dentista só ocorre quando há a necessidade de procedimentos mais invasivos, como a extração dentária. É necessário a busca precoce do atendimento.
- Falta de formação ” técnica”: Os profissionais muitas vezes não sabem como lidar ou como atender pessoas com deficiência, muitos por medo ou ainda por desconhecerem as síndromes.
Tanto no âmbito público quanto privado a atenção à saúde bucal das pessoas com deficiência é possível somente a partir de profissionais de saúde qualificados e treinamentos. A falta de informações e o desamparo acabam contribuindo para a exclusão social.
O Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº 1.032, de 5 de maio de 2010, financia tratamento odontológico em ambiente hospitalar para Pacientes com Necessidades Especiais ou Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2010b).
Em relação às técnicas de manejo do comportamento, pode-se fazer uso do “dizermostrar-fazer”, do reforço positivo, do controle de voz e da dessensibilização. Essas técnicas não sendo efetivas, pode-se fazer uso, dependendo das condições clínica e sistêmica do usuário, de medicação via oral, isolada ou combinada, ou tratamento odontológico sob anestesia geral. Independente da técnica de sedação que será utilizada recomenda-se que sejam supervisionadas por membro da equipe médica, evitando-se riscos. As consultas devem ser rápidas, na medida do possível, evitando ocorrência de fadiga muscular e buscando sempre uma abordagem individualizada para a realização de um tratamento efetivo e seguro, tanto para a pessoa quanto para o profissional
Síndrome de Down
O tratamento para o TEA normalmente é pautado nos sintomas encontrados, com uso de antipsicóticos (risperidona), antidepressivos (fluoxetina), anticonvulsivantes (fenitoína) e psicoestimulantes (metilfenidato) para o controle da agressividade, da ansiedade, da irritabilidade, da depressão, das convulsões e da hiperatividade (MENEZES; ZINK; MIRANDA, 2014; AMARAL et al., 2012; KATZ et al., 2009)
Quando o atendimento odontológico é solicitado, são comuns os casos em que o indivíduo já apresenta problemas bucais em estágios avançados, com presença de dor, grande necessidade de tratamento, presença de automutilação, envolvendo mordeduras no corpo ou lesões bucais, bem como traumatismos em tecidos moles e duros (CAMPOS; SABBAGH-HADDAD, 2007) (p. 87)
Normalmente, os indivíduos com TEA reagem exageradamente a estímulos sensoriais (visuais, auditivos, olfativos, vestibulares e proprioceptivos), dificultando a abordagem por parte do profissional. Os ruídos gerados pelos equipamentos utilizados para realização do tratamento, bem como sabores desagradáveis de medicamentos, podem desencadear reações de repulsa, medo ou desconfiança. Nesses casos, recomenda-se manter silêncio no consultório e possuir pouca decoração e luzes reguláveis. Uma música de fundo suave pode ter um efeito benéfico (CAMPOS; SABBAGH-HADDAD, 2007)
A presença da mãe ou cuidador ou responsável que tenha maior domínio e afinidade com o usuário deve ser incentivada em todas as consultas, priorizando o vínculo afetivo entre a equipe profissional, o usuário e a família (GADIA; TUCHMAN; ROTTA, 2004)
Pesquisas em relação à abordagem psicológica do indivíduo com TEA no ambiente odontológico são escassas (KATZ et al., 2009). As técnicas de abordagem psicológicas mais citadas para essas pessoas são: “dizer-mostrar-fazer”, reforço positivo (elogios, premiação), evitar reforços negativos (punições ou qualquer tipo de ridicularização em função do comportamento negativo frente à experiência odontológica), técnica da modelagem, eliminação de estímulos sensoriais estressantes, uso de comandos e ordens claras e objetivas, uso do controle de voz, estabelecimento de uma rotina de atendimento (dia e horário das consultas) e sessões curtas. Essas técnicas podem ser utilizadas isoladamente ou associadas, devendo sempre levar em consideração as características de cada pessoa.
Thais Barion
Jornalista e mestranda em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), com experiência em redação, assessoria de imprensa e mídias digitais. Apaixonada por livros e pela escrita acredita que o respeito, humildade e igualdade são aspectos essenciais para um mundo melhor.