Confira o termo correto usado hoje em dia, e como chegamos nela ao longo de mais de um século de lutas por igualdade de direitos
É fato que o mundo muda e que sociedades e terminologias se transformam – basta pensar que até pouco tempo atrás a conexão de internet era discada, as pessoas interagiam pelo Orkut e expressões como “vamos falar pelo Zoom” ou “me manda um áudio no zap” seriam equivalentes a um dialeto alienígena.
Quando o assunto é acessibilidade não poderia ser diferente: as relações interpessoais evoluíram, a internet tem se consolidado como ferramenta fundamental para a militância por um mundo mais inclusivo e, consequentemente, muitos termos para designar a pessoa com deficiência passaram a ser repensados. Que tal conferir qual a terminologia correta hoje em dia, e como chegamos nela ao longo de mais de um século de lutas por igualdade de direitos?
Mas afinal, quem são as pessoas com deficiência?
Antes de mais nada, é importante reforçarmos que a melhor regra de convivência ainda é a de respeitar a identidade do outro e, se a situação permitir, perguntar para a própria pessoa como ela gostaria de ser chamada, uma vez que em alguns casos, como o da comunidade Surda, por exemplo, existe um contexto sociocultural em que há quem prefira ser chamado de Surdo e quem opte por ser chamado de deficiente auditivo.
Tendo isso em mente, o termo mais adequado e amplamente aceito hoje é Pessoa com Deficiência, que foi oficializado pela Lei Brasileira de Inclusão em 2015. Segundo a LBI:
Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Art. 2º
A Lei Brasileira de Inclusão foi um marco importantíssimo não só para garantir os direitos das pessoas com deficiência, mas também para consolidar uma terminologia que trata a deficiência como a necessidade encontrada pela nossa sociedade de adaptar seus espaços para que possam ser usufruídos por todo mundo. Esse conceito, entretanto, é relativamente recente, tendo sido instituído pela primeira vez pela ONU em 1992, ocasião em que foi celebrado o primeiro Dia Internacional da Pessoa com Deficiência.
A evolução do termo
A questão da nomenclatura ganhou mais visibilidade no período das duas Guerras Mundiais, já que muitos soldados voltaram dos combates com dificuldades de locomoção relacionadas aos ferimentos de guerra. O termo utilizado na época, “incapacitados”, tinha relação com essa conjuntura, e trazia consigo a conotação de “indivíduos que perderam sua capacidade”. Foi nessa época que um grupo de veteranos da II Guerra Mundial com deficiência iniciaram um movimento pró ambientes sem barreiras, que culminou com o surgimento das primeiras normas norte-americanas de acessibilidade em edifícios.
Já na década de 60 o movimento por uma sociedade inclusiva deu mais um salto graças aos esforços dos chamados “Tetras Rolantes”, grupo de 7 pessoas com tetraplegia que desenvolveram um serviço de atendentes pessoais do qual eles mesmos precisavam para viverem suas vidas com autonomia. Essa instituição existe até hoje, e é conhecida como Centro de Vida Independente. Muitos consideram os Tetras como os precursores do movimento civil pelos direitos das pessoas com deficiência nos Estados Unidos.
Esse movimento acabou chegando no Brasil na própria década de 60, tendo culminado com a criação da Emenda Constitucional No 1/1969, que definiu o uso da palavra “deficiente”. Posteriormente, a Emenda Constitucional No 12/1978 surgiu com o intuito de oferecer medidas mais contundentes de promoção da igualdade, como proibição de discriminação e garantia de acesso a espaços públicos. Uma década mais tarde, a Constituição Brasileira de 1988 modificou o termo “deficiente” para “pessoa portadora de deficiência”, que posteriormente foi adequado para “pessoa com deficiência”.
Como posso me engajar?
Bom, deu pra perceber pelo histórico que acabamos de passar que os termos para designar pessoas com deficiência evoluíram bastante nos últimos anos, né? Ainda que isso seja incrível, é possível que muitas pessoas, principalmente as de mais idade, não estejam familiarizadas com esses novos termos, e acabem utilizando a nomenclatura antiga sem nem ao menos se darem conta de que palavras como “inválido” podem soar ofensivas. Logo, a melhor forma de se engajar nesse sentido é espalhar por aí qual o termo correto, seja em postagens nas redes sociais ou mesmo em conversas informais com amigos no trabalho ou na mesa do bar – mantendo, sempre que possível, uma postura informativa, em vez de combativa, já que na maior parte dos casos se tratam de erros cometidos por falta de conhecimento.
E você, qual sua opinião sobre a luta das pessoas com deficiência e a evolução da terminologia com o passar dos anos? Conta pra gente no nosso instagram ou nos comentários ali embaixo!
Renata Schmidt
Relações Públicas e jornalista. Acredita que todo mundo tem uma história que vale a pena ser contada.
Uma resposta
A linguagem é dinâmica, e acompanha o processo de evolução e respeito ao próximo.