Um estudo inédito feito pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Guiaderodas mapeou a acessibilidade para pessoas com dificuldade de locomoção na capital paulista
Mais de uma dezena de bases de dados foram analisadas para identificar quais são as regiões com melhores condições de acessibilidade, com base em diferentes critérios ligados a mobilidade urbana.
O trabalho teve início em fevereiro de 2018 e foi feito em parceria com o Laboratório de Cidades Inteligentes (InterSCity). Os resultados estão disponíveis no portal Free Wheels, além de um mapa interativo que permite a visualização detalhada das notas de cada região.
Mapa interativo do portal Free Wheels com os resultados do estudo.
Como produto final, foi elaborado um ranking dos distritos de São Paulo mais (e menos) acessíveis. Além das notas individuais para cada critério analisado, a página do estudo apresenta um mapa interativo que permite visualizar o desempenho de cada distrito ou região da cidade.
As notas de cada distrito foram computadas com base em diversos critérios: meios públicos de transporte, vagas de estacionamento reservadas, o relevo do município e as avaliações de locais acessíveis feitas pelos usuários da plataforma colaborativa Guiaderodas.
Objetivos e critérios de análise
Empiricamente, qualquer pessoa que já tenha circulado pela cidade sabe que algumas regiões são mais acessíveis que outras. A Avenida Paulista, por exemplo, tem calçadas largas e planas, enquanto na Vila Olímpia há diversas ruas com calçadas estreitas e com postes. O objetivo do estudo é criar uma escala comparativa que permita dizer “quanto” mais (ou menos) acessível uma região da cidade é em relação às outras.
O desafio é encontrar uma forma confiável de fazer isso, baseada em dados abrangentes de todo o Município. São necessários números concretos e, principalmente, que abranjam todo o Município.
Para isso, além das avaliações feitas pelos usuários do app Guiaderodas em São Paulo, foram também analisados diversos dados disponíveis no GeoSampa, o portal de dados abertos da Prefeitura, e também dados da Scipopulis, empresa de análise de dados de transporte público.
Foto: Prefeitura de São Paulo
Cinco notas distintas foram calculadas para cada um dos 96 distritos administrativos do município:
- Estabelecimentos: Média das avaliações dos estabelecimentos da região distrital, feitas colaborativamente pelos usuários do aplicativo Guiaderodas, além de quantidade de estabelecimentos com o Selo de Acessibilidade, emitido pela prefeitura de São Paulo.
- Ônibus Acessíveis: Percentual de ônibus acessíveis para cada linha de transporte que cruza a região distrital.
- Metrô e CPTM (Trens Metropolitanos): Distância média de deslocamento até a estação mais próxima.
- Vagas Reservadas de Estacionamento: Quantidade de vagas de rua exclusivas para idosos e cadeirantes em relação à área do distrito.
- Relevo: Índice de regiões planas e morros ou outros declives em cada região distrital.
Para cada critério, a nota “10” foi dada para o distrito com melhor desempenho e “0” para o pior. Os outros distritos tiveram notas intermediárias, linearmente de acordo com seu desempenho. A nota final é uma média dos critérios isolados.
Campeões de acessibilidade
As pontuações de Estabelecimentos têm um desempenho médio notavelmente melhor na Zona Oeste. Considerando que essa zona contém muitos dos distritos que também apresentam melhores índices do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), este resultado parece estar de acordo com a percepção qualitativa de que, em geral, seus edifícios têm melhor acessibilidade. Alguns distritos que não continham um número suficiente de avaliações não receberam pontuação para este critério.
Avaliações dos usuários do app Guiaderodas na cidade de São Paulo.
Relevo
As notas referentes ao relevo da cidade consideram que regiões mais planas são mais acessíveis que regiões com alta declividade (isto é, planícies são melhores que morros e ladeiras). Os resultados traduzem a geografia de São Paulo: a cidade é atravessada por dois grandes rios, Tietê e Pinheiros, e os distritos próximos às várzeas tendem a ser mais planos. Além disso, a área central onde a cidade foi fundada no século XVI também é bastante plana, justificando a alta pontuação média do Zona Central. Nos extremos norte e sul da cidade, existem cadeias montanhosas, (Serras da Cantareira e do Mar, respectivamente). Isso resulta em notas baixas para os distritos nessas áreas.
Foto: Midiaturis
Transporte
Os resultados de transporte (ônibus, metrô/trem e vagas reservadas) mostram a alta centralização da infraestrutura de transporte público de São Paulo. Em geral, a maioria das rotas de ônibus conectando as zonas Norte / Sul e Leste / Oeste atravessam necessariamente o centro da cidade. Para linhas de metrô e trem, essa característica é ainda mais evidente: 4 das 5 linhas de metrô existentes passam por várias estações no Zona Central, causando uma “alta densidade” de estações nesta área.
Foto: Metro São Paulo
Vagas Reservadas de Estacionamento
Em São Paulo, vagas prioritárias de estacionamento para pessoas com deficiência e idosos só existem em ruas com alta circulação diária de automóveis e pessoas. Mais uma vez, uma extrema concentração em torno do centro da cidade pode ser observado. De fato, quase dois terços dos distritos receberam grau zero para este aspecto, o que significa que não há estacionamento reservado em grande parte da cidade.
Foto: Saiba Seus Direitos
Por esses motivos, os distritos centrais tiveram excelentes notas para esses critérios. Como resultado, boa parte dos distritos campeões estão nas áreas centrais (especialmente devido às notas de Mobilidade) e em regiões com melhores indicadores socioeconômicos.
Os resultados completos estão disponíveis no portal Free Wheels.
Como melhorar o estudo?
Para o futuro, o maior interesse é em analisar outras cidades de todas as regiões do Brasil. O fator mais importante é a existência de dados abertos sobre o município.
Um dado fundamental para acessibilidade e que não pôde ser incluído no estudo é a qualidade das calçadas – não há, até o momento, uma fonte confiável e abrangente que mapeie as calçadas em todas as regiões da capital paulista.
Outros dados interessantes capazes de enriquecer a análise incluem:
- (a) táxis e aplicativos de carros compartilhados
- (b) uso de veículos privados
- (c) transporte público para pessoas com deficiência como o Atende da SPTrans
- (d) o nível de acessibilidade de cada uma das estações de metrô/terminais de ônibus
- (e) asfaltamento de ruas e outros fatores relacionados às calçadas
- (f) existência de degraus e buracos
- (g) largura e tipo de piso
- (h) localização de postes/árvores/caixas de luz/outros obstáculos
- (i) existência de rampas de acessos
- (j) faixas de pedestres
- (l) fluxo médio diário de pessoas
- (m) sinalização sonora para travessia de pessoas com deficiência visual
- etc.
Você conhece alguma fonte de dados abertos sobre cidades do Brasil? Conte pra gente nos comentários abaixo!
Quer ver um ranking de acessibilidade da sua cidade e contribuir para as próximas edições do estudo? Convide seus amigos e avalie locais no app Guiaderodas!
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