Ao contrário do que muita gente pensa, não é necessário inserir a tag #PraCegoVer em todas as redes sociais para seu conteúdo ser aproveitado pelo público com deficiência visual. Nesse post, te explicamos porquê.
Você sabia que, segundo um levantamento feito pela Organização Mundial de Saúde, existem aproximadamente 39 milhões de pessoas cegas no mundo? E que, ao contrário do que muita gente pensa, essa fatia da população também consome conteúdo em plataformas digitais?
A utilização de aplicativos e outras funcionalidades em tablets, celulares e computadores é feita através de funções como a VoiceOver, disponível no sistema operacional iOS, que narram para o usuário os rótulos das aplicações disponíveis na tela – os sistemas Android e Windows Phone possuem suas próprias versões dessa funcionalidade, de maneira que não é imperativo ter um iPhone para contar com esse tipo de recurso
Para que esses diferentes leitores sejam capazes de recitar os aplicativos, é necessário que os mesmos sejam programados por seus desenvolvedores de forma a conter descrições que possam ser decodificadas – a exceção aqui é a VoiceOver no iOS 14, que é capaz de gerar ela mesma os códigos de leitura até mesmo nos casos de aplicações que não tenham sido habilitadas para tanto por seus programadores.
#PraCegoVer: como surgiu a Hashtag
Nesse contexto, #PraCegoVer é fruto de um movimento iniciado lá em 2012, época em que o mercado de aplicativos ainda engatinhava e, consequentemente, muitos deles ainda não dispunham de funções de leitura para cegos e pessoas com deficiência visual. Com objetivo de trazer essa temática à tona de forma divertida e inclusiva, a professora baiana Patrícia Braille criou um evento no Facebook chamado #PraCegoVer, que convidava seus participantes a narrarem, no dia 4 de janeiro daquele ano, conteúdos da rede social para pessoas com deficiência visual. O sucesso da iniciativa foi tanto que o evento acabou se tornando uma página no Facebook, que hoje contabiliza mais de 20 mil curtidas. Seu intuito é de disseminar uma cultura de acessibilidade digital, sempre reforçando que atitudes muitas vezes simples fazem maravilhas no sentido de integrar pessoas com deficiência no universo das redes sociais.
O tempo passou, as redes sociais evoluíram e a hashtag passou a ser utilizada no Instagram, LinkedIn e até mesmo em redes consideradas ‘alternativas’, como Pinterest , Tik Tok e Behance. Muito embora seja incrível saber que uma iniciativa inspiradora dessas siga online, é bastante comum que ela seja confundida com o recurso de texto alternativo em postagens, como um alerta para a audiência de que trata-se de um conteúdo acessível e que a partir dali será feita uma descrição da imagem.
Mas afinal, o que é texto alternativo?
De 2012 pra cá, muitas das plataformas online melhoraram consideravelmente sua usabilidade, e consequentemente se tornaram mais acessíveis para seus públicos com deficiência visual, de maneira que hoje Twitter, Facebook, LinkedIn e WordPress já implementaram o recurso de texto alternativo em seus sistemas: trata-se de uma função que permite aos produtores de conteúdo inserirem descrições das imagens postadas em um formato que fica invisível para as pessoas que enxergam, mas é narrado para as pessoas com deficiência visual que se utilizam de leitores de tela. Infelizmente essa funcionalidade ainda não está disponível para vídeos postados em redes sociais – muito embora mas já exista um aplicativo que faz a audiodescrição de filmes e séries em Português!
Quando uso o texto alternativo e quando uso #PraCegoVer?
Antes de mais nada, queremos reforçar que não queremos dizer, com isso, que você precise parar de usar a hashtag #PraCegoVer, já que é super importante promover a acessibilidade digital! Entretanto, se o seu intuito ao criar um post com imagens e a tag para o Twitter, Facebook ou LinkedIn é desenvolver conteúdo acessível para pessoas com deficiência visual, o mais adequado é se utilizar do recurso de texto alternativo. Agora, se você está produzindo conteúdo para o instagram, conteúdo em vídeo ou ainda tem o objetivo de tratar do tema da inclusão digital tendo como públicos-alvo pessoas que enxergam, #PraCegoVer é a opção que você está buscando!
Em busca do texto alternativo perfeito
Se depois de ler tudo isso você decidiu adotar o uso de textos alternativos em seus posts, mas tem dúvidas sobre por onde começar, não tema! Seguem algumas dicas que irão te ajudar na elaboração de descritivos para ninguém botar defeito!
- Comece explicando qual o formato do conteúdo: Trata-se de uma fotografia? Um desenho? Uma pintura? Ou mesmo uma tirinha? Muitas vezes esquecemos de fazer esse tipo de descrição por julgarmos que ela é intuitiva, quando na verdade uma pessoa que não enxerga não tem como saber do que se trata sem que alguém a informe;
- Narre a imagem da esquerda para a direita e de cima para baixo, na ordem da escrita ocidental;
- Seja objetivo na narrativa – vale dizer, por exemplo ‘o sol está se pondo no horizonte, nas cores amarela, alaranjada e rosada’, em vez de ‘é um belo pôr do sol’. Cabe ao ouvinte decidir, em sua percepção, o que é belo ou emocionante;
- Ao narrar vídeos, descreva as cenas em ordem cronológica – nesses casos, mesmo que o material em questão esteja nas plataformas que possuem a funcionalidade de inserir textos alternativos, é necessário utilizar a tag #PraCegoVer no início da narrativa, uma vez que essa função ainda não se aplica a arquivos de vídeo.
Em resumo, a chave para ter sucesso na produção de conteúdo acessível e inclusivo está em adotar uma postura empática e aberta – que tal tentar o exercício de fechar os olhos e descrever para si mesmo a imagem que você pensa em postar? Isso com certeza irá te dar muitos insights valiosos sobre como transmitir a realidade de formas criativas e diferentes!
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Renata Schmidt
Relações Públicas e jornalista. Acredita que todo mundo tem uma história que vale a pena ser contada.
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