O esporte pode ter um papel fundamental para o desenvolvimento das crianças com autismo, desde o aspecto físico até o intelectual.
Abril é considerado o mês da Conscientização Mundial do Autismo. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) atinge uma a cada 54 crianças no mundo e, no entanto, ainda é pouco conhecido pela maioria da população, dificultando o diagnóstico e os tratamentos. Nesse sentido, o esporte pode ter um papel fundamental para o desenvolvimento das crianças com autismo, desde o aspecto físico até o intelectual.
“As atividades esportivas vêm ganhando muito espaço para trabalhar a inclusão das crianças com TEA. Elas ajudam muito no entrosamento e no aprendizado relacionado a adequação de comportamentos através dos exercícios físicos, além de percebermos uma grande evolução cognitiva e do condicionamento físico dessas crianças”,
explica a psicóloga Margarete Castilho ao Guiaderodas.
A realização de movimentos frequentes também ajuda na conscientização da postura corporal, do equilíbrio, da coordenação motora, além de aumentar a noção de tempo e espaço. Isso sem falar nos ganhos de comunicação e interação social, além do sentimento de pertencimento proporcionados pelo estímulo e relacionamento com outras pessoas e ambientes.
A psicóloga ressalta ainda que não há idade para começar a praticar alguma modalidade e que existem várias opções de esportes para as crianças com autismo, como a natação e o hipismo, que trabalham bastante a parte sensorial da pessoa. E salienta a importância de se ter um acompanhamento profissional e qualificado durante as atividades.
“Muitas coisas que a maior parte das pessoas aprende de forma intuitiva, apenas observando, são difíceis de serem entendidas por pessoas com TEA. Por isso é importante que as instruções para elas sejam direcionadas de forma simplificada, com linguagem concreta e racional, por profissionais capacitados para este tipo de trabalho”,
completa a psicóloga.
Judô Para Todos
Uma modalidade em especial vem crescendo bastante no Brasil e no mundo: o judô inclusivo ou judô DI (judô para deficientes intelectuais). Em termos de alto rendimento, pessoas com autismo ainda não podem competir, já que este esporte é destinado somente para deficientes visuais. Mas o novo segmento, ainda que não “oficial”, surge como uma alternativa.
Você provavelmente não sabe, mas o Brasil tem, inclusive, um campeão mundial de judô inclusivo: o catarinense João Vitor Ferreira. Em 2017, foi realizado o primeiro Campeonato Mundial de Judô Para Deficientes Intelectuais chancelado pela Federação Internacional de Judô (FIJ).
A competição aconteceu em Colônia, na Alemanha, e contou com 110 atletas de 13 países diferentes. João enfrentou seis adversários e venceu todos por ippon, se consagrando como o primeiro campeão mundial de judô DI.
Apesar da importância do título, é a evolução de João que realmente vale ouro. Ele foi diagnosticado com autismo e com a Síndrome do X Frágil apenas aos 11 anos de idade. E hoje ele é atleta universitário.
“Lembro da época que meu filho João não conseguia nem amarrar seu tênis… E hoje eu vejo ele fazendo exercícios com alto grau de complexidade e ainda fazendo faculdade de fisioterapia”,
conta o pai, Giovanni Ferreira que, desde o nascimento de João, passou a se dedicar ao judô inclusivo como professor e embaixador da causa.
“O judô traz um ganho excepcional para crianças com autismo. Eu tenho resultados incríveis de ganho de coordenação motora, de socialização. Tenho um atleta que é autista não verbal e até para a perna dele movimentar para frente eu precisava auxiliar com as minhas mãos. E hoje ele já está se movimentando sozinho. Isso é o principal. E tratar o autista não como alguém que precisa de sua pena, ou de um favor seu, mas tratá-lo como alguém que busca no esporte o que ele pode proporcionar”,.
conclui
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Fernanda Zalcman
Jornalista, curiosa por natureza e apaixonada por fazer a diferença. Encontrou no esporte um propósito: inspirar e dar voz à histórias e pessoas que por vezes estão escondidas. Porque todos importam e merecem espaço!
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